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Lucília Gago: "O parágrafo é da minha inteira responsabilidade"

Procuradora-Geral da República fez revelações sobre a Operação Influencer numa entrevista à RTP.

Sérgio Lemos
Lucília Gago quebrou esta segunda-feira o silêncio. Numa entrevista à RTP, a Procuradora-Geral da República (PGR) revelou que não se sente "responsável pela demissão do primeiro-ministro" e que o parágrafo que levou à demissão de António Costa foi da sua inteira responsabilidade.

"Esse parágrafo foi concebido conjuntamente entre mim e o gabinete de imprensa", afirmou. "É da minha inteira responsabilidade, a sua inclusão."

E negou ainda que o Presidente da República tivesse qualquer influência no comunicado enviado pelo gabinete de imprensa sobre a Operação Influencer, porque este já estava redigido quando Lucília Gago se deslocou a Belém.

Ao longo da entrevista a PGR fez questão de deixar bem claro que não compreendia a demissão de António Costa. Deu até como exemplo outros políticos europeus que já foram alvo de investigações e que nunca o fizeram.

"Não era compreensível a omissão do mesmo [parágrafo]", frisou. "Ursula von der Leyen permaneceu em funções e (...) aconteceu em outros momentos históricos. Não é de modo algum algo automático que tenha como consequência a demissão."

Em concreto sobre o estatuto de António Costa no processo Influencer. "Penso que é de testemunha, não foi constituído arguido". No entanto, o processo prossegue: "Se o inquérito não foi agora encerrado é porque algo a tal obstará", vincou.

Questionada sobre se o Ministério Público deva fazer um pedido de desculpas, caso o processo da operação Influencer seja arquivada, afirmou: "De modo algum. Assim como não deve fazer um pedido de desculpas a qualquer outro tipo de cidadão com um cargo importante. Não há ninguém que consiga ter um estatuto especial."

Confrontada se alguma vez pensou em pedir a demissão, respondeu: "Não ponderei demitir- me, não, nunca." E considerou que todo o seu mandato ficou marcado pelo "rigor, objetividade e isenção", apesar de estar "perfeitamente consciente de que há de facto uma campanha orquestrada" por parte de algumas pessoas.

De seguida, aproveitou a abordagem para desmentir algumas notícias acerca da sua presença na Assembleia da República. "Tem sido muito repetido que não vou de bom grado à Assembleia da República e que pedi um adiamento da audição. Não é verdade. É falso. Tenho aqui o ofício da resposta. Foi dito que eu tinha disponibilidade para aceitar o convite."

Já no final da entrevista, questionada sobre se não a chocava que escutas telefónicas demorassem quatro anos, como sucedeu com o ex-ministro João Galamba, pouco desenvolveu. "Essa questão já foi respondida", respondeu. "O problema é que geralmente, nesses casos que se justifica prolongar as interceções, é porque no decurso delas se foi conhecendo elementos."

Esta é a primeira vez que Lucília Gago dá uma entrevista em que fala sobre o seu exercício à frente da Procuradoria-Geral da República e explica os casos mais polémicos que envolvem o Ministério Público, entre os quais o processo "Influencer", que conduziu à demissão do ex-primeiro-ministro, António Costa.
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