Em Belém centenas de peregrinos dirigiram-se, na quarta-feira, para o Parque do Perdão. É lá que estão os 150 confessionários construídos por reclusos.
Em Belém, o Jardim Vasco da Gama vestiu-se a rigor para o segundo dia da JMJ (Jornada Mundial da Juventude). É lá que fica a Cidade da Alegria, composta por uma feira vocacional, onde os peregrinos podem conhecer outras ordens religiosas e associações, uma capela, onde decorrem orações, e o Parque do Perdão, com 150 confessionários, construídos por reclusos dos estabelecimentos prisionais de Coimbra, Paços de Ferreira e Porto.
João Cortesão
Às 11h do dia 2 de agosto, o calor já se fazia sentir e o parque estava calmo e silencioso, com muitos peregrinos a dirigir-se para junto do Palácio de Belém para receber o Papa Francisco, que chegou ao aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa, por volta das 10h, onde foi recebido por Marcelo Rebelo de Sousa.
Numa das entradas para a Cidade da Alegria, estava a voluntária Teresa Sena Esteves, de 21 anos. "Decidi participar porque sou católica e porque é uma oportunidade que só acontece uma vez na vida". Ligada à fé desde muito nova, na manhã de quarta-feira estava junto ao Jardim Vasco da Gama a orientar os peregrinos. Sobre o Parque do Perdão explica: "Há confessionários, onde estão padres de todas as nacionalidades a confessar pessoas de todas as nacionalidades". "Há várias filas para cada uma das nacionalidades. As pessoas quando entram vão encontrar um padre que fala a sua língua," acrescenta.
Vocação tardia e um chamamento de cedo
Um dos padres que vai estar a ouvir os peregrinos que falam espanhol chama-se Juan Pablo Aroztegi, vem do norte de Espanha e tem 40 anos. "Vim com um grupo de 200 pessoas. Decidi vir para a JMJ há seis meses." Padre desde os 35 anos, explica à SÁBADOcomo descobriu a sua vocação: "Era engenheiro. Houve um dia que um amigo que não acreditava em Deus me perguntou porque é que eu acreditava e isso alterou algo no seu coração, nunca tinha feito essas perguntas a mim próprio. Há 5 anos acredito que Deus estava a chamar-me para servir as pessoas enquanto padre."
Deixar para trás a sua profissão não foi fácil, mas Juan Pablo revela estar feliz com a decisão. "É difícil deixar as coisas para trás, mudar é difícil, mas por outro lado, é uma vida cheia de beleza. Eu sou muito feliz aqui agora."
No Parque do Perdão, o padre Juan Pablo revela que estão a chegar muitos peregrinos para se confessar. "Muitas pessoas estão a aderir. Nas primeiras duas horas não vieram muitas pessoas porque o Papa estava a chegar, mas a maioria das pessoas que vem até à Jornada faz a confissão".
A irmã Dira Semedo, natural de Cabo Verde, tem 33 anos e depois de se ter confessado, esperava no jardim pela sobrinha que ainda se encontrava no Parque do Perdão. "Gostei muito de me confessar, os confessionários atraem-me, gosto de coisas simples e bonitas," refere. "O encontro com Deus faz-se vazio para que ele nos preencha, temos tanta coisa que é preciso tirar, ali é o encontro com Deus para que ele entre no nosso coração e nos purifique. Achei que os confessionários estavam muito bem organizados por línguas".
Dira vive em Portugal há 13 anos, faz parte da congregação Missionárias Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus desde 2008 e esta é a primeira Jornada em que participa. "Sempre quis ir às jornadas, é um encontro especial, é um encontro com Cristo e para mim é o novo Pentecostes [celebração do calendário cristão]".
Explica ainda que o desejo de ser freira surgiu quando era muito nova, mas o processo não foi fácil e a família não aceitou bem a decisão. "Desde criança que gostava das irmãs, mas por motivos fúteis, achava que não morriam, que não adoeciam e que não se sujavam, porque andavam sempre com a mesma roupa". Mais tarde, aos 17 anos "já não queria muito, queria fazer o curso dos meus sonhos que era medicina, então já não queria muito, já não dava jeito dizer que sim, mas o Senhor insistiu".
"A minha mãe deixou de falar comigo, ameaçou pôr-me fora de casa, o meu pai foi-me buscar à força aos Estados Unidos, mas hoje aceitam e são felizes. Senti um chamamento de Deus e sou feliz."
Um "lugar de paz" e a proximidade de Maria
Sentada na relva após fazer a confissão, Camille Rougier, de 23 anos, explicou quais as motivações para viajar de França até à capital portuguesa durante o evento. "Não tive oportunidade de ir à Polónia e ao Panamá [durante as anteriores JMJ], então pensei que agora tinha que vir. Queria muito ver o Papa e também outras pessoas que têm a mesma fé que eu, mas que são de diferentes países e têm diferentes formas de viver".
A jovem francesa revelou ainda que os confessionários são "um lugar de paz, muito calmo", o que considera muito especial por existirem tantas pessoas à volta e tanto barulho. E acrescenta: "É muito bom ter um lugar onde nos podemos focar e encontrar o perdão".
A fé nem sempre esteve presente na vida de Camille, já que apesar de ter sido batizada em bebé, a família não é "muito cristã". A aproximação à Igreja chegou aos 18 anos, após ter feito o sacramento do Crisma. "Foram muitos pequenos passos que me mostraram o caminho para chegar perto de Cristo, foi uma evolução lenta", partilha.
Em pé, junto ao grupo de amigos, estava também Jorge Prevedoni Muñoz, de 20 anos, que vive em Sevilha, Espanha, e chegou a Portugal há dois dias para participar no evento da Igreja Católica. "É uma oportunidade na vida. Quando cheguei cá foi como se Deus me chamasse, é incrível," diz.
"Estive no confessionário e quando saí sentia-me uma pessoa nova, eu sei que Deus me ouve". Jorge explica que se ligou desde cedo ao cristianismo por ter nascido numa minha família muito religiosa. No entanto, revela: "Às vezes tenho momentos em que tenho dúvidas, sinto Deus longe de mim, mas nos últimos anos senti-me mais aberto a Ele".
De Espanha, acompanhada com um grupo católico de Barcelona, veio também Luciana Cirami, de 27 anos. É natural da Argentina, mas mudou-se há dois anos para o nosso país vizinho e à saída do confessionário revela: "Foi muito bom estar no confessionário, senti que falava com um amigo e foi ótimo". "Sou católica desde que nasci e há alguns anos tive uma reconversão, " acrescenta. Garante nunca ter perdido a fé, mas sentiu-se perdida durante um período difícil pelo qual passou. "Lembrei-me de Maria, tive uma nova conexão com ela. Ela tirou-me do chão, ela anda comigo sempre, de mão dada. A minha reconversão deve-se a ela", contou emocionada.
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