Sérgio Moras, colega de Adérito Lopes, e o médico que tratou do ator agredido relatam o filme dos acontecimentos que culminaram na agressão junto ao teatro A Barraca.
20 horas de terça-feira. Cerca de 30 indivíduos jantavam num restaurante ao lado do teatro a Barraca, em Lisboa, no que seria um "evento privado", quando dois deles pertencentes ao grupo de extrema-direita Blood & Honour - que exibiam t-shirts da Pró-Pátria-AHNT (uma sigla para "Adolf Hitler Tinha Razão") e que estavam "visivelmente embriagados" - abandonam o recinto, deslocando-se até à porta do teatro A Barraca, num caminho que duraria cerca de um minuto a pé. O momento foi captado emimagens amadoras.
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"Era um grupo que estava aqui no restaurante e que vim a saber mais tarde que eles supostamente marcaram isto como sendo uma claque de futebol associada a um clube de Lisboa", começou por revelar ao Now o ator Sérgio Moras.
O Paulo Kerensky até há pouco tempo um ideólogo do grupo 1143 (encarregado do perfil @vozdopovopt)surge na gravação como um dos coordenadores do ataque ao actor Adérito Lopes. No vídeo de casaco castanho. Na foto com @GilCosta687824 e outros. pic.twitter.com/Jh1zec1jNC
À chegada do teatro, ter-se-ão sentido "ofendidos com uma t-shirt" que uma das atrizes usava e que continha "uma estrela vermelha". "Foi o suficiente para ele começar com agressões verbais. Começou a perguntar se ela gostava do Che Guevara, porque ele também gostava muito. Mas a minha colega não entrou em diálogo e manteve-se calada", contou Sérgio Moras.
Adérito Lopes chegaria de seguida. "Saiu do carro, foi cumprimentar os colegas e depois foi agredido por um desses indivíduos", continuou Sérgio Moras.
O ator acabou agredido, pelo menos com um soco no olho, por um membro deste grupo. Ficou com "duas lacerações e o olho inchado", além de "uma pequena fratura na maça do rosto".
No local, junto a um "poste", foram deixados "dois" panfletos com as frases: "Remigração" e "Portugal aos Portugueses", associado ao movimento Reconquista que, como a SÁBADO noticiou, negou qualquer envolvimento neste ataque. "Deduzimos que aquilo era propaganda do grupo", afirmou Sérgio Moras.
A polícia só foi chamada ao local pelas 20h15 e deteve um jovem de 20 anos que se encontrava nas redondezas. O ator de Amor é um fogo que arde sem se ver foi posteriormente transferido para o Hospital de São José com a ajuda de uma equipa de bombeiros.
À CNN, fontes próximas do ator confirmaram que Adérito Lopes levou "bastantes pontos" e ao Now, Sérgio Moras adiantou: "O médico que tratou o Adérito no hospital disse que aquele ferimento não parecia [ter sido feito] com uma mão nua. [O indivíduo] tinha que ter alguma coisa na mão para provocar aquele estrago." Estas declarações surgiram depois de a atriz e encenadora Maria do Céu Guerra ter levantado a hipótese, em entrevista a SIC Notícias, da utilização de uma arma branca nesta agressão.
Adérito Lopes só viria a sair do hospital entre as 2h e as 4h da manhã do dia seguinte, e de acordo com a CNN Portugal, estava "muito assustado com tudo o que aconteceu". Foi posteriormente levado para casa, onde ficou a descansar.
Esta agressão levou ao cancelamento da peça de teatro Amor é um fogo que arde sem se ver, que estava agendada para as 21h de terça-feira e cuja entrada era gratuita. Sabe-se que o público só abandonou o espaço pelas 22h.
O Blood & Honour, inspirado no lema da juventude hitleriana, é classificando como terrorista em alguns países como Espanha, Alemanha e Canadá, mas sendo altamente secreto, tendo em conta a excassez de propaganda através das redes sociais, sabe-se pouco sobre o mesmo.
Considerado neonazi, e com maior atuação no Porto, já havia estado referenciado não só pela Polícia Judiciária e pelos Serviços de Informações, como constava no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), mas que no entanto foi eliminado da versão final do mesmo, por razões nunca reveladas.
Sabe-se também que o grupo já havia sido sancionado por incitamento e financiamento ao terrorismo.
Ex-condenados pela morte de Alcindo presentes nas agressões
30 anos depois de terem sido condenados pela morte de Alcindo Monteiro, sabe-se que João Martins e o antigo vigilante Nuno Themudo terão estado envolvidos neste ataque contra Adérito Lopes. A informação foi apurada pela SÁBADO junto de fontes policiais.
Poucos dias após esta agressão, Adérito Lopes decidiu finalmente quebrar o silêncio. Num comunicado, classificou este episódio como um "brutal ato de violência totalmente gratuito" e diz esperar que o agressor em causa seja punido pela justiça.
"Na sequência dos recentes acontecimentos ocorridos junto ao Teatro A Barraca, em resultados dos quais fui agredido violentamente no rosto, venho por este meio prestar uma breve declaração pública, em respeito por todos os que, com genuína preocupação, me fizeram chegar palavras de solidariedade", lê-se. "Na minha chegada ao teatro, fui absolutamente surpreendido por um cruel e brutal ato de violência, totalmente gratuito, sem que da minha parte tivesse havido qualquer ação em relação à pessoa do agressor ou em relação a qualquer outra pessoa ali presente. Tem de ser exemplarmente investigado e punido pela justiça".
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