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Futuro do País e polarização preocupam jovens 50 anos após o 25 de Abril

Luana Augusto
Luana Augusto 24 de abril de 2024 às 12:44
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Debate da SÁBADO e do Jornal de Negócios juntou João Pereira Coutinho, Catarina Caria, Rui Maciel, Mafalda Rebordão e Airton Monteiro, para determinar o que esperam os jovens da democracia.

"Falhámos muito, mas acertámos muito". Assim definiu o politólogo João Pereira Coutinho os 50 anos de democracia no debate organizado pela SÁBADO e o Jornal de Negócios sobre os jovens e o 25 de Abril. "O nosso bem-estar melhorou. Somos hoje um País de imigrantes, ou seja, que recebe mais do que envia para fora. É um País mais igualitário. A situação das mulheres, por exemplo, é incomparável com aquilo que acontecia em 1974." Muito foi feito desde então para o escritor e cronista da SÁBADO, mas para Mafalda Rebordão, são precisamente os dados da emigração que acabam por fornecer pistas sobre o que ainda falta fazer. 

"Passamos pouco tempo a discutir o futuro do País e de Portugal", sustentou a economista que trabalha na Google e que já passou por empresas como a L'Oréal. "Apesar de entrarem mais pessoas do que aquelas que saem, temos uma média de 200 jovens a sair de Portugal por dia, e acho que estes, que foram os últimos dados do Observatório das Migrações, dizem muito sobre o que ainda está por fazer em Portugal." 

Duarte Roriz/Jornal de Negócios
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Considera então que a educação é um dos setores onde ainda há muito a melhorar. "Apesar de sermos um País que teve uma evolução notável nos últimos anos, [sendo que] em 1974 uma em cada quatro pessoas era analfabeta, neste momento apenas 3% da população é analfabeta. Há muito a fazer do ponto de vista da educação, em especial em tudo o que diz respeito ao ponto de vista operacional, que é o facto de nos próximos anos não termos professores para ensinar. Tivemos em Portugal eleições, e muito pouco se falou sobre o tema da educação - uma média de 6% nos debates políticos sobre o tema, o que me preocupa bastante." 

Mas os problemas não ficam por aqui. No debate, Airton Cesar Monteiro - que escreve regularmente sobre mudanças sociais e cultura para a revista Máxima - sublinhou ainda o facto de os imigrantes viverem numa sociedade onde os direitos são ameaçados. 

"As pessoas que lá vivem [nos bairros de Chelas] sentem que têm os seus direitos ameaçados constantemente. O direito à habitação afeta jovens quase de qualquer estrato social, mas pessoalmente estes - que têm um background de mais desfavorecidos, e que continuam na mesma situação que os pais e os avós", esclareceu. 

Acender a chama de Abril

Mafalda Rebordão relembrou, por isso, a importância da apresentação de soluções, já que anteriormente ao 25 de Abril o cidadão comum não tinha voto na matéria política. "Atrevia-me a dizer que a democracia é demasiado importante para a deixarmos só nas mãos dos políticos. É importante a reinvindicação. É importante explicarmos o que é que não está bem, mas é importante percebermos o que podemos fazer. Mas quais são as soluções e como é que estamos a olhar para o País de um ponto de vista da solução?"

A economista apontou o problema da "polarização". "Acho que neste momento não há espaço para uma pessoa ser moderada, e diria até que ficámos todos muito preocupados quando tivemos 50 deputados do Chega na Assembleia da República, mas estamos muito pouco preocupados com as restantes mil e tal pessoas que estão nas redes sociais sempre com uma cultura de cancelamento, em que não é possível existir opiniões. Não há espaço para pessoas moderadas." 

A falta de moderação também se faz sentir através do comentário gratuito nas redes sociais, o que leva o cronista da SÁBADO e economista, Rui Maciel, a apelar à "reflexão crítica". "O algoritmo valoriza normalmente coisas sobre as quais as pessoas têm reações muito fortes. Existe muita informação errada a passar nas redes sociais, exatamente sobre movimentos mais extremistas. Para isso o que acho que é necessário fazer é dotar as pessoas de educação, e depois fazer um exercício próprio de reflexão crítica. É muito fácil uma pessoa no seu dia a dia estar no seu telemóvel e deixar-se completamente levar por discussões de Internet." 

O debate "50 anos depois, o que esperam os jovens da democracia?" realizou-se esta terça-feira, dia 23, a dois dias da celebração do 25 de abril, no Fidelidade Creative Studio da NovaSBE, em Carcavelos. A cronista da SÁBADO, e gestora de programas na área de Paz e Desenvolvimento Sustentável, Catarina Caria, foi a moderadora.

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