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Montenegro, o vencedor ofuscado por Ventura, mantém "não é não" ao Chega e pede responsabilidade às oposições

Rita Rato Nunes 19 de maio de 2025 às 02:35

Primeiro-ministro transformou discurso de vitória num pedido de responsabilidade aos partidos para que respeitem a votação e permitam ao Executivo governar por quatro anos. "O povo quer este primeiro-ministro e não quer outro", afirmou.

Luís Montenegro ganhou as eleições. A AD foi a coligação mais votada com 32,1%, aumentou o número de votos (1.914.913) e distanciou-se dos outros partidos; mas a noite foi do Chega, que cresceu vertiginosamente, alcançou o PS em mandatos, e colocou Montenegro numa situação delicada com muitos sociais-democratas a sublinhar que agora há que dialogar com o Chega. Nos corredores, durante toda a noite, as conversas foram inevitavelmente parar ao resultado de Ventura. 

Mariline Alves/´Medialivre

O primeiro-ministro não quis tentar analisar o resultado da direita radical, mas questionado diretamente por um jornalista, no final do seu discurso de vitória, a partir do Epic Sana, em Lisboa, afirmou: "Já mostrámos que tínhamos palavra e cumpriremos a nossa palavra". Ora as palavras que usou durante a campanha eleitoral para o Chega foram "não é não". A estratégia, no imediato, passa por pedir responsabilidade às outras forças políticas para que respeitem a vontade do povo e não precipitem o País novamente para eleições, visto que a "maioria maior" que tanto pediu em campanha lhe foi negada. A AD e a IL unidas não chegam à maioria absoluta: são necessários 126 deputados e a AD conquistou 89 mandatos e os liberais nove.

O clima no piso inferior do hotel foi de festa, a partir das 20h, quando as urnas encerraram e todas as projeções apontaram para um cenário de vitória. As duas juventudes partidárias exaltavam alegria e a sala esteve sempre cheia (embora sem personalidades marcantes). "O que é isto?", perguntavam os novatos surpreendidos e entusiasmados. "Isto é uma vitória muito boa", comentavam os mais experientes nestas andanças.

No entanto, na noite da AD pouco se falou sobre a AD. As conversas oscilaram entre risos sarcásticos à pesada derrota dos socialistas e interesse pelo resultado do Chega. E não faltou quem considerasse inevitável tornar a relação com o partido de Ventura mais estreita.

"O PS já não vale nada. Nem com os dinossauros", provoca um militante, em conversa com um grupo que acompanha os resultados pelas emissões televisivas. "Era muito mau para nós, mas era muito engraçado que o líder da oposição fosse o Ventura", continua, numa fase da noite em que ainda não era claro que resultados teriam o Chega e o PS. 

"Epa, não brinques", alerta outro. 

Deixem a AD governar...  

"Tal como fizemos nesta campanha, daqui em diante deixaremos o nosso esforço até à última gota de suor na tarefa mais nobre que alguém pode ter: governar um País", prometeu o primeiro-ministro reeleito, que aproveitou o discurso para repetir os chavões da campanha. "Vamos continuar a valorizar o trabalho e os rendimentos dos portugueses e a estimular o investimento", garantiu Luís Montenegro. "Vamos criar mais riqueza para garantir prosperidade e justiça social" e "apostar na juventude", "nos pensionistas" e "na administração pública". 

"Vamos continuar a salvar o Estado Social, da saúde à educação, da habitação à mobilidade. Vamos continuar a levar a cabo mais controlo sobre a emigração", continuou o primeiro-ministro, elencando ainda como prioridades o combate à criminalidade e à corrupção, o investimento nas forças de seguranças e armadas. 

A vitória deu força a Montenegro para afirmar convictamente que pode lavar as mãos da crise política e apelou aos outros partidos para se "adequarem às circunstancias nacionais e coletivas"; que tenham "sentido de Estado, responsabilidade e respeito pelas pessoas." "Será um exercício que ninguém compreenderá se os políticos não forem capazes de interpretar a vontade do povo", não levantando o véu sobre as ideias que tem para o novo Executivo (e se a IL poderá fazer parte deste ou não). 

"Os portugueses não querem mais eleições antecipadas. Querem uma legislatura de quatro anos e exigem a todos que respeitem a sua palavra livre e democrática", declarou. "O povo quer este Governo e não quer outro. O povo quer este primeiro-ministro e não quer outro".

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