Ainda sem a contagem final dos votos, o líder do partido dedicou o seu discurso de vitória à subida ao segundo lugar. Pelo meio, humilhou o socialista Pedro Nuno Santos e piscou o olho a Luís Montenegro, como fez há um ano.
O Chega é um dos grandes vencedores danoite das legislativas 2025. Após o fecho dos resultados no continente e ilhas, o partido teve 22,56%, cerca de 1.345.575 votos, com 58 deputados eleitos, o mesmo número alcançado pelo PS — contudo, com quatro mandatos por distribuir nos círculos do estrangeiro (onde Ventura venceu há um ano), existe uma possibilidade real de, no fim das contas, o Chega ultrapassar o PS. Ainda sem a contagem total dos votos, o líder do partido dedicou o seu discurso de vitória à subida ao segundo lugar, ditando a "morte definitiva do bipartidarismo".
AP Photo/Ana Brigida
"Meus caros, não sabemos ainda o resultado final. Porém, as indicações que temos até ao momento é que com o apuramento que falta do círculo da emigração, na Europa e Fora de Europa, eu acho que podemos assegurar ao País algo que não acontecia desde 25 de Abril de 1974: o Chega tornou-se nestas eleições o segundo maior partido em Portugal", afirmou no seu discurso final André Ventura no hotel Marriott, quartel-general do Chega, entre aplausos e coros organizados. "Luís vai lá trabalhar para o Ventura poder governar", começaram os jotas, replicaram os restantes. Ventura respondeu: "Dirigimo-nos aos que se sentiram traídos por este sistema, a dizer que estamos quase, quase lá. Quase a atingir o ponto em que podemos finalmente governar Portugal. Porque acreditem nisto: não conseguiremos a transformação que queremos enquanto não liderarmos este Governo", atira o presidente do Chega.
Um histórico de manifesting
Este discurso de Ventura vai na linha de todas as suas intervenções pós-eleições: alcança um novo marco, faz tiro ao alvo ao PS ou PSD, sonha alto. Em 2019, quando Ventura foi eleito deputado único, prometeu ser "o maior partido daqui a 8 anos"; em 2022, quando elegeram 12 deputados, os chavões de Ventura saltitavam entre "António Costa [então primeiro-ministro], eu vou atrás de ti agora" e "se o PSD não fez o seu trabalho, seremos nós a oposição em Portugal"; e em 2024, quando elegeram 50 deputados, chamou Luís Montenegro de "muito irresponsável" se não integrasse o Chega no Executivo. "Passaram seis anos e já vencemos um dos maiores partidos em Portugal. O Chega lidera hoje a oposição e daqui a uns dias confirma-se essa liderança. Será uma mudança gigantesca e um sinal que partimos com vontade de vencer as autárquicas em Portugal", afirmou.
Volvido um ano das últimas legislativas, o Chega cresceu pelo menos 8%, oito deputados, mais de 300 mil votos, sem contar com os círculos do estrangeiro — e está perto de se tornar a segunda força política, ultrapassando o PS. O PSD pode afirmar-se como grande vencedor, mas são os sociais-democratas o próximo alvo de Ventura: "Não conseguiremos a transformação que o País precisa enquanto não governarmos."
Humilhar o PS
Antes de André Ventura subir ao palco, os dirigentes iam entrando um a um. Rita Matias sobe ao palanque, pega no microfone e tenta ensaiar uma nova canção: "Vamos todos dizer: ‘Ventura chegou, o sistema abalou… Ó Pedro vai para casa chorar, o Ventura chegou para ficar’", pediu, entoando ao som do Volare dos Gipsy Kings. Minutos mais tarde, a equipa audiovisual do Chega transmite os minutos finais do discurso de Pedro Nuno Santos, acabado de se demitir de secretário-geral do PS, provocando novos apupos. "Chora, Pedro! Chora, Pedro!", gritam.
Quando foi a sua vez de falar, André Ventura alimentou a onda de apupos. "Nesta grande vitória do Chega, ouvi há pouco o secretário-geral do PS reconhecer a derrota... ["óóó, chora Pedro!", gritavam os militantes]... e dizer que fomos muito agressivos nesta campanha. Meus caros, eles ainda não viram nada!", afirmou. "Sim, o Chega superou o partido de Mário Soares. O Chega superou o partido de António Guterres. O Chega matou o partido de Álvaro Cunhal. O Chega varreu do mapa o BE", afirmou.
À semelhança de 2024, André Ventura não foi demasiado hostil contra o PSD. Se na altura aplaudia "uma maioria clara" — "essa maioria será entre o Chega e o PSD" —, agora retoma a suavidade com os sociais-democratas. "Tive oportunidade há pouco de ligar ao primeiro-ministro, felicitando-o. E estou certo de que nos próximos dias teremos hipótese e oportunidade de falar de Governo", frisou. Contudo, Montenegro promete "cumprir a palavra" de manter a linha vermelha com o Chega, o conhecido "não é não": "Dentro dos compromissos que assumi tenho a certeza absoluta de que vai acabar a imperar o sentido de responsabilidade", afirmou o primeiro-ministro.
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O Estado português falha. Os sucessivos governos do país, falham (ainda) mais, numa constante abstração e desnorte, alicerçados em estratégias de efeito superficial, improvisando sem planear.
A chave ainda funcionava perfeitamente. Entraram na cozinha onde tinham tomado milhares de pequenos-almoços, onde tinham discutido problemas dos filhos, onde tinham planeado férias que já pareciam de outras vidas.