André Ventura está "a aproveitar-se da doença", diz analista comportamental
Alexandre Monteiro acredita que o líder do Chega quis tirar proveito político da sua doença, e diz que as suas atitudes perfilam um caráter "narcisista".
A emergência médica que afligiu André Ventura por duas vezes durante a campanha é, ao que tudo indica, real - o que não significa que o líder do Chega não tenha aproveitado para tirar dividendos políticos. É o que diz Alexandre Monteiro, analista, palestrante e autor de livros como Os Segredos que o Nosso Corpo Revela e Torne-se um Decifrador de Pessoas.
Descrevendo-se como "perfilador comportamental", uma área do saber que cruza "sociologia, antropologia, neurobiologia ou comportamento humano" Alexandre Monteiro tem-se especializado em perfilar os poderosos, caracterizando as suas personas públicas na página Decifrar Pessoas. Um dos seus perfilados é André Ventura, de quem tem dúvidas em relação aos últimos casos que captaram a atenção mediática.
Em relação ao primeiro caso, diz que acredita numa ocorrência genuína de surpresa com o que estava a acontecer. “Ele assustou-se mesmo, muda de cor, o que é indicação do sistema nervoso a atuar”, refere, esclarecendo que esta ocorrência “não é da doença, mas de não saber o que está a acontecer”. A isto junta-se "uma microexpressão facial associada à tristeza e ao medo", o que, para o autor, é indicativo da veracidade do ataque.
Acrescenta, no entanto, que, na sequência, Ventura "aproveita-se do show-off da doença" para despertar "sentimentos de pena", considerando que o político "exagerou" os sintomas da doença e aproveitou para expor a sua condição nas redes sociais: "Reza, abre a camisa para mostrar o penso, e está a usar isto como meio de ganhar vantagem política".
Na segunda instância, ocorrida esta quinta-feira, o analista considera que há um aproveitamento mais explícito: "Já olha para as câmaras, faz uma queixa maior e faz questão de mostrar uma atitude hercúlea, de querer andar e continuar mesmo estando doente". O que Alexandre Monteiro estranhou "não é tanto o comportamento dele, mas do deputado que estava com ele": diz que Pedro Pinto "está atrás dele e não reage, olha para ele, mas não se mexe para acudi-lo".
Acrescenta que há outro deputado, "Pedro Frazão, que agarra nele, mas não parece muito preocupado com o que está a acontecer", o que, na sua interpretação, só pode ter acontecido por dois motivos: "Ou não se importa que o Ventura esteja nesta situação, para continuar a ter foco mediático, ou então sabiam que alguma coisa ia acontecer".
Um "comunicador narcisista"
O que ganha Ventura com a exposição excessiva deste momento? “A nível psicológico, adoramos seguir o líder, é um mecanismo biológico primitivo que temos”, responde o profiler, acrescentando que, “em tempos de crise, quem faz mais barulho mais pontos ganha”. Ocorre que "os líderes bons nunca são perfeitos, porque dá a entender arrogância". Os líderes "que emitem vulnerabilidade que não seja vista como fragilidade" - ou seja, "vulnerabilidade que não ponha em causa a sua competência" - "criam empatia, pena, e a ideia de que devemos ajudar."
Aqui, defende Alexandre Monteiro, “Ventura usou muito mais a doença a seu proveito do que Montenegro”, quando o líder da AD também teve de ser levado para as urgências no rescaldo do escândalo Spinumviva. Esclarece que “as campanhas eleitorais são lutas por atenção”, e quando “Gouveia e Melo anunciou a sua candidatura” à presidência da República, “o foco saiu de André Ventura, e era preciso atraí-lo novamente” para o Chega.
Em geral, o profiler comportamental descreve Ventura como "um bom comunicador, o político que melhor comunica", ainda que note que a comunicação pode ser usada "tanto para o bem quanto para o mal". Vinca, sobretudo, que "há várias características nele que indicam um índice de narcisismo, incluindo a vaidade, o querer ser o centro das atenções, a recusa de responsabilidade e o auto-elogio e o endeusamento excessivo".
Refere que “quando é confrontado, fica muito emocional, e passa para o ataque pessoal”, outra característica que é fortemente conotada com o narcisismo. “Os narcisistas são bons comunicadores de massas, têm autoestima, e isto é percebido como carisma, mas é um falso carisma”.
Edições do Dia
Boas leituras!