É preciso promover a literacia digital, de forma a capacitar os jovens para a utilização destes dispositivos e os seus conteúdos e terem sobre eles uma capacidade crítica. Afinal, é o que fazemos com os smartphones o que pode ser problemático.
Num debate sobre o impacto da tecnologia na vida de crianças e jovens, alguém dizia que chegará o dia em que olharemos para uma criança a usar um smartphone como olhamos atualmente para uma criança que esteja a fumar ou a beber uma bebida alcoólica. Se assim será, veremos, mas a verdade é que a questão do impacto da utilização de smartphones na saúde psicológica e no comportamento em geral de crianças e adolescentes - para não falar nos adultos - tem vindo a ser cada vez mais discutida. Numa realidade em que aos 12 anos quase todas as crianças têm um smartphone e em que as redes sociais digitais têm uma presença generalizada ou que os dispositivos móveis até parecem ser uma espécie de prolongamento do corpo, acumulando-se queixas de diversos agentes sobre o seu impacto, este assunto é já classificado como uma questão de saúde pública e tornou-se incontornável quando se fala em desenvolvimento humano e convivência social.
De resto, temos assistido a uma trajetória de aumento das restrições à utilização de smartphones em contexto escolar em diversos países, incluindo o nosso, medidas essas que são justificadas pelos efeitos nefastos da sua utilização na aprendizagem, na socialização, na motricidade e na saúde psicológica. Em 2023, o Global Education Monitor, da UNESCO, apresentava evidências de que a utilização excessiva dos dispositivos móveis resulta numa deterioração da aprendizagem e da estabilidade emocional das crianças, o que levou aquela organização a sugerir fortes restrições ou até banição de smartphones nas escolas, de forma a melhorar a aprendizagem e a proteger as crianças do cyberbullying. Mais recentemente, o Ministério da Educação apresentou recomendações neste âmbito, incluindo de proibição nos primeiro e segundo ciclos do ensino básico, a restrição e o desincentivo no terceiro ciclo, e "o envolvimento dos alunos na construção conjunta de regras para a utilização responsável de smartphones nos espaços escolares" no ensino secundário.
Esta trajetória tem sido apoiada, não só pelo facto de as experiências de proibição que já existem não estarem a correr mal (com alguns estudos, por exemplo, em Espanha e na Noruega, a mostrarem uma redução no cyberbullying e uma melhoria de resultados escolares, entre outros relatos empíricos favoráveis), como também pelos argumentos contrários às restrições não serem suficientemente convincentes (por exemplo, o receio de um efeito de privação e de posterior ricochete, em que há uma sobreutilização quando já for permitido noutro local - o que até faz lembrar uma linguagem normalmente utilizada nos comportamentos aditivos). Há também quem diga que isto não é somente uma questão de proibir na escola, quando em todo o lado isso não acontece. Recordemos, todavia, que a escola bem pode e deve estar na linha da frente de medidas promotoras do desenvolvimento. Em suma, quando olhamos para as experiências anteriores ou em curso, os smartphones foram proibidos ou a sua utilização foi restringida, e a vida continuou.
Mas não nos iludamos. Se, por um lado, agir sobre o contexto para mudar o comportamento é um princípio importante, sendo de esperar que menor disponibilidade de smartphones possa reduzir riscos e favorecer experiências mais adaptativas, por outro, vai ser preciso mais do que isso para que exista maior eficácia em lidar com o que está a acontecer. É preciso promover a literacia digital, de forma a capacitar os jovens para a utilização destes dispositivos e os seus conteúdos e terem sobre eles uma capacidade crítica. Afinal, é o que fazemos com os smartphones o que pode ser problemático. E, porque isto não é apenas um tema que diga respeito aos utilizadores, têm de existir quadros legislativos e as empresas tecnológicas têm de ser responsabilizadas e agir, por exemplo, no combate ao cyberbullying, não favorecendo ambientes virtuais que são uma selva. Ainda que os tempos não sejam auspiciosos em matéria de regulação de redes e plataformas digitais, lidar com este problema não é uma questão apenas individual ou de contextos de intervenção - é também uma questão de regulação macro e de responsabilidade institucional e das organizações.
Para além disso, não basta apenas banir os telemóveis para que as escolas e outros locais sejam espaços mais atrativos e promotores da socialização. Se queremos que as crianças e os jovens sejam mais capazes de se relacionar consigo e com os outros, e que andem, corram, subam a árvores, se sujem, enfim, se mexam, temos de criar mais condições para isso nos seus vários contextos de vida. Até porque, quando crianças e jovens valorizam e estão envolvidos em atividades daquela natureza, a presença dos dispositivos digitais reduz-se.
Certamente que ninguém pensa em excluir crianças e jovens do acesso às tecnologias, já que não só isso seria tentar parar o vento com as mãos como também as tecnologias têm um papel na aprendizagem. Mas não pode ser ignorada a situação de vulnerabilidade em que estas faixas etárias se encontram perante os impactos nefastos do assoberbamento digital que vivemos. Face à acumulação de evidências e tendo noção de quais são as necessidades de desenvolvimento humano, o desafio é, portanto, o de criar um contexto mais adaptativo da utilização de dispositivos móveis, com cada agente a assumir a sua responsabilidade, e de em simultâneo termos contextos de vida mais atrativos. Não é fácil, mas é necessário. E, já agora, também temos de ter em conta que, ao definirmos regras para as crianças, não podemos ignorar qual é o comportamento dos adultos.?
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