Sábado – Pense por si

Ricardo Borges de Castro
Ricardo Borges de Castro Analista e Consultor
13 de novembro de 2025 às 07:00

A ilusão da carreira certa

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Edição de 11 a 17 de novembro

Num mundo onde muitas das profissões do futuro ainda nem existem, e em que a ideia de “curso com saída” perdeu sentido face à rapidez com que tudo muda, uma carreira só é verdadeiramente bem-sucedida quando está alinhada com a identidade, os valores e as motivações de cada um.

Durante muito tempo, a ideia de carreira esteve associada a uma progressão linear dentro de uma profissão ou organização, ou a determinados momentos específicos de tomada de decisão, em que, por exemplo, é necessário escolher um curso. Ainda que frequentemente seja esse o motivo que leva as pessoas a procurarem serviços de psicologia, essa visão é limitada e hoje está ultrapassada. A carreira contemporânea é fluida, múltipla e frequentemente incerta. Mais do que um conjunto rígido de patamares hierárquicos ou de um momento circunscrito, a noção de carreira remete-nos para um percurso de construção de identidade, realização pessoal e procura de sentido.  

Falar de desenvolvimento de carreira não é, por isso, falar apenas de “transações”. É também falar num percurso de autoconhecimento, exploração e desenvolvimento pessoal. Envolve compreender quem somos, o que nos motiva, quais as nossas competências e de que forma estas podem ser colocadas ao serviço de perspetivas profissionais e de vida. Num mundo com as características que conhecemos, o desenvolvimento de carreira, no seu verdadeiro significado, é um desafio existencial.  

E é precisamente aqui que a intervenção psicológica tem um papel insubstituível. Mais do que um apoio pontual, de aplicação de um “teste psicotécnico” - e muito menos de dizer às pessoas o que devem fazer! - , trata-se de ajudá-las a compreenderem quem são e o que podem ser, dentro das circunstâncias em que vivem. Trata-se de fomentar a autonomia, a autodeterminação e o sentido de agência — qualidades fundamentais para construir uma carreira no mundo volátil em que vivemos. Num mundo onde muitas das profissões do futuro ainda nem existem, e em que a ideia de “curso com saída” perdeu sentido face à rapidez com que tudo muda, uma carreira só é verdadeiramente bem-sucedida quando está alinhada com a identidade, os valores e as motivações de cada um. 

Assinalamos em novembro o Global Careers Month, promovido pela Inter-Agency Career Guidance Working Group. Que este mês da carreira seja mais uma oportunidade para reafirmarmos a importância da Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento de Carreira, cujas intervenções contribuem para a saúde psicológica e o bem-estar das pessoas, mas também para a coesão social e a prosperidade das sociedades. Porque o desenvolvimento de carreira não é apenas um interesse de nicho ou para ser assumido por cada um de nós, psicólogos. É também um desígnio social, a ser assumido no plano institucional e das lideranças. Um investimento estruturado na orientação e no aconselhamento de carreira, com psicólogos qualificados e planos integrados nas comunidades, é um investimento com retorno, não apenas no plano individual, mas também para sociedades mais coesas e preparadas para o futuro.

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