Sábado – Pense por si

Francisca Costa
Francisca Costa Gestora de projetos
04 de outubro de 2024 às 07:34

Na linha da frente

Por isso, quando falamos em transição justa e medidas de adaptação é também sobre as condições destes trabalhadores que devemos atentar.

Esta semana, o quase inevitável aconteceu. Tive uma queda de bicicleta devido à humidade do piso e à falta de ciclovias adequadas. Fui parar ao hospital, depois de amparada e salva por bombeiros e é sobre eles que este artigo versa.

Nunca tive muito contacto direto com bombeiros. Durante a minha vida conheci um ou dois bombeiros voluntários que dedicavam o seu pouco tempo livre a ajudar outras pessoas. Mas nunca tinha lidado diretamente com bombeiros de profissão.

Devo dizer, antes de mais, que fui extraordinariamente bem tratada. Para além do profissionalismo com que me socorreram, trouxeram alguma alegria ao meu dia que naquele momento parecia que não podia ficar pior. Durante a viagem, aproveitei para questionar sobre a sua carreira profissional, que por sinal tem estado nas bocas do mundo nos últimos dias, nomeadamente depois de mais uma vez terem sido os heróis da pátria no combate aos fogos que assolaram o país nas semanas anteriores.

A bombeira com quem falei não me disse nada de novo, mas naquele momento de particular vulnerabilidade, assimilei as suas palavras ainda com mais impacto. Os bombeiros em Portugal recebem pouco mais do que o salário mínimo, conseguindo algum extra com horas extraordinárias, trabalho ao fim de semana e prémios. No entanto, esse rendimento mal é suficiente para garantir uma vida digna, equilibrar com a vida pessoal ou fazer jus à pressão e ansiedade de quem dedica a sua vida a salvar a vida dos outros.

Depois deste episódio, foi num misto de alegria e revolta que vi esta classe profissional a tomar as ruas e a lutar pelos seus direitos. Foram mais de 1000 bombeiros vindos de todo o país que esta semana se juntaram em frente à Assembleia da República e reivindicaram melhores condições salariais. Comparando com o resto da Europa, Portugal, apesar de ser um dos países mais afetados pelo fogo anualmente, é dos estados-membros com menor percentagem de despesa em serviços de proteção contra incêndios. Estes números são particularmente alarmantes considerando que o nosso cantinho à beira-mar plantado está entre os países europeus mais expostos a incêndios e que o aumento de temperaturas provocadas pelo aquecimento global apenas vai agravar a situação.

Assim sendo, o governo tem um papel crucial na garantia de melhores condições de trabalho desta profissão, não só ao nível salarial mas também de garantia de apoio psicológico, equipamento adequado e formação técnica especializada, não podendo deixar esta responsabilidade apenas à mercê da capacidade de resposta das autarquias.

Os bombeiros são uma das classes profissionais na linha da frente no combate à crise climática, sendo os primeiros a responder às catástrofes provocadas por eventos.

climáticos extremos no nosso país. Por isso, quando falamos em transição justa e medidas de adaptação é também sobre as condições destes trabalhadores que devemos atentar.

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