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Francisca Costa
Francisca Costa Gestora de projetos
24 de janeiro de 2025 às 19:34

Os donos disto tudo

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Edição de 5 a 11 de agosto

Este descuido permitiu que os oligarcas da era digital minassem os sistemas económico e político, enquanto que a União Europeia tenta agora recuperar a autoridade que lhe escapou por entre os dedos.

Donald Trump, tornou-se novamente um dos homens mais poderosos do mundo, trazendo consigo um bando de aliados ultra poderosos capazes de atuarem acima das democracias e ditarem as regras do sistema económico em que vivemos. 

A tomada de posse do presidente dos Estados Unidos transformou-se num desfile dos donos disto tudo, que marcaram orgulhosamente presença no evento. Elon Musk, CEO da Tesla e mais recentemente proprietário da X (antigo Twitter), Jeff Bezos, fundador e presidente executivo da Amazon e Mark Zuckerberg, CEO da Meta, empresa-mãe do Facebook e do Instagram, foram convidados de honra, ocupando lugares na primeira fila da cerimónia de inauguração da presidência de Trump, legitimando assim o seu poder e as suas ideias. 

Numa era dominada pela tecnologia, ser detentor de uma empresa tecnológica, passou a ser o caminho para arrecadar milhões ao mesmo tempo que se detém o oligopólio da difusão da informação, concentrado, em última instância nas decisões dos CEO’s das multinacionais tecnológicas e nos seus posicionamentos políticos. 

E como o dinheiro é capaz de comprar (quase) tudo, estes passaram a usar o seu poder e influência para financiar partidos de extrema-direita ao mesmo tempo que colaboram com a administração de um dos países mais poderosos do mundo. Sillicon Valley, o centro da tecnologia e inovação americana, tornou-se uma fábrica de animais políticos, que agora assombram as democracias, mesmo sem nunca terem sido democraticamente eleitos. Como se não bastasse, os donos disto tudo detêm os nossos dados, controlam as ferramentas digitais que usamos, definem os algoritmos e restringem a nossa liberdade de expressão, transformando a tecnologia num instrumento de opressão e controlo social. 

A União Europeia, é cúmplice deste espetáculo a que assistimos, não só por ter seguido cegamente os Estados Unidos como pela falta de coragem política para impor regras que não só taxassem os bilionários como também regulasse o poder das empresas tecnológicas. Essa inércia permitiu que o destino das democracias ocidentais ficasse assim à mercê de interesses privados. 

Podemos traçar um paralelismo com os filmes de ficção científica, em que a tecnologia, criada para servir a humanidade, acaba por se voltar contra os próprios humanos, dominando-os. De forma semelhante, os políticos das democracias ocidentais confiaram excessivamente nos bilionários e nas grandes empresas tecnológicas, entregando-lhes as rédeas do sistema económico e democrático sem perceberem que estavam progressivamente a abdicar do seu controlo. Assim como nas histórias onde as máquinas assumem o poder, os líderes ocidentais deixaram que a influência desmedida do dinheiro e da tecnologia corroesse os alicerces democráticos. Este descuido permitiu que os oligarcas da era digital minassem os sistemas económico e político, enquanto que a União Europeia tenta agora recuperar a autoridade que lhe escapou por entre os dedos. 

Só a tributação justa dos bilionários, a regulamentação das grandes tecnológicas e a proteção dos direitos digitais poderão reequilibrar o poder. Sem isso, as democracias ocidentais continuarão a ser corroídas pela influência de quem vê na democracia apenas mais um mercado a ser explorado.  

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