Sábado – Pense por si

Francisca Costa
Francisca Costa Gestora de projetos
03 de janeiro de 2025 às 22:05

O relógio não para

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Edição de 5 a 11 de agosto

As odes de revertermos a situação climática para onde caminhamos parecem cada vez mais escassas e o aproximar do final da década deixa-nos cada vez com menos tempo.

A viragem do ano é sempre um momento para novos desejos, resoluções e para a crença de que algo será ainda melhor que no ano anterior. Por mais que seja uma viragem de dia, tal como tantos outros, este acaba por trazer consigo uma dose de esperança e positividade.

Mas não nos enganemos, o ano de 2024 foi considerado o ano mais quente de sempre, tendo o mês de outubro registado 1.65º celsius de aquecimento da temperatura média global, comparando com os níveis pré-industriais. À data que escrevo, restam 4 anos e 199 dias para limitarmos o aquecimento global. Este relógio foi criado com base nas previsões do Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas, estimando o orçamento de carbono global para que as temperaturas se mantenham abaixo do limite de 1.5º celsius.

As odes de revertermos a situação climática para onde caminhamos parecem cada vez mais escassas e o aproximar do final da década deixa-nos cada vez com menos tempo. Mesmo estando ainda dentro do prazo estipulado pela ciência, as expectativas para 2025 não são as mais favoráveis. Neste novo ano, espera-se novos recordes nas temperaturas, eventos climáticos devastadores, possível perda de colheitas e maior degradação da qualidade de vida das populações mundiais.

Para além disso, este deveria ser o ano em que as emissões de gases com efeito de estufa iriam atingir o seu pico e começariam a descer progressivamente. No entanto, espera-se para 2025 o aumento do investimento em 60% em petróleo e gás por parte dos maiores produtores de petróleo mundiais. Ao mesmo tempo, os subsídios aos combustíveis fósseis continuam a alimentar esta indústria e o consumo de energia continua igualmente a crescer.

Este aumento de consumo é o reflexo do paradoxo de Jevons: à medida que a eficiência energética melhora, o consumo total de energia tende a aumentar em vez de diminuir. A maior eficiência reduz os custos e torna a energia mais acessível, incentivando um maior consumo. Assim, aumentar a eficiência energética ou transitar para fontes de energia mais limpas não será suficiente, a menos que sejam implementadas políticas públicas eficazes para controlar e redirecionar o consumo, especialmente nas nações mais ricas.

A ciência climática já nos deu o plano que temos que seguir, bem como os prazos que temos para o implementar. Os economistas do século XXI também já têm métodos como o decrescimento, que tornam essa mudança possível. Perante isto, como disse Albert Einstein, "insanidade é continuar a fazer a mesma coisa, esperando resultados diferentes".

E neste novo ano, temos a oportunidade de fazer diferente, mas apenas se deixarmos para trás as velhas expectativas de resultados promissores, mantendo os mesmos métodos dos anos transatos. O tempo escasseia e o relógio não para.

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