Estas propostas foram rotuladas como "terrorismo ideológico e ambientalista", ignorando os dados científicos que as fundamentam.
Estas propostas foram rotuladas como "terrorismo ideológico e ambientalista", ignorando os dados científicos que as fundamentam.
Depois das recorrentes secas extremas no Algarve e dos constantes incêndios por todo o país, a crise climática continua a ser questionada pelos nossos representantes políticos e ofuscada por argumentos negacionistas que classificam o bem-estar comum das pessoas e do planeta como mera ideologia.
O Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas composto por cientistas de todo o mundo, já demonstrou, por diversas vezes, que a crise climática está intimamente ligada à atividade humana. Estes cientistas, de diferentes nacionalidades e visões políticas, analisam estudos e dados de várias áreas da ciência, chegando sempre à mesma conclusão: as emissões de gases com efeito de estufa, são, em grande parte, provocadas pela ação humana e têm causado o aquecimento global que afeta o nosso planeta de forma cada vez mais intensa. Para além disso, estes relatórios produzem várias recomendações políticas, com base em inúmeros estudos científicos, essenciais reverter a situação atual emergência climática.
No entanto, mesmo com este consenso científico global, as propostas para combater a crise climática continuam a ser desafiadas e questionadas por agendas políticas negacionistas, atrasando o avanço legislativo necessário nestas matérias, quer no contexto internacional, como vimos recentemente com os Estados Unidos da América, com a saída do Acordo de Paris, mas também a nível nacional.
Recentemente, na Assembleia da República, voltaram a ser discutidas diversas propostas para combater as alterações climáticas e assegurar o bem-estar humano das gerações atuais e futuras. Tópicos como a mineração em mar profundo, a introdução do crime de ecocídio no Código Penal e a criação do estatuto de refugiado climático foram levados à casa da democracia portuguesa para serem debatidos. De todas essas iniciativas, apenas a moratória para a mineração em mar profundo foi aprovada, enquanto as outras foram rejeitadas e atacadas com base em argumentos que misturam ideologia com desinformação, numa retórica negacionista para justificar a inação política.
O crime de ecocídio, reconhecido recentemente apenas pela Bélgica, pune a prática deliberada de atos que causam danos graves e de longo prazo ao meio ambiente. A introdução deste tipo de crime em Portugal poderia posicionar o país na vanguarda da proteção ambiental, e ajudaria a suprir falhas judiciais evidentes, já que nos últimos anos, apesar de terem sido registados mais de 80 000 casos de crimes ambientais, apenas 6% destes chegaram a julgamento, muitas vezes resultando em penas desagravadas.
Já a criação do estatuto de refugiado climático, previsto na Lei de Bases do Clima (artigo 15º, alínea d), continua por cumprir. Este estatuto pretende proteger pessoas forçadas a abandonar as suas casas e países devido a desastres ambientais causados pela crise climática. A não implementação desta medida para além de representar uma falha grave na defesa dos direitos humanos é também uma falha no compromisso que os nossos decisores políticos assumiram quando aprovaram esta lei.
Para além disso, estas propostas foram rotuladas como "terrorismo ideológico e ambientalista", ignorando os dados científicos que as fundamentam. Olhando para as definições dos diferentes conceitos introduzidos no debate, ideologia consiste num conjunto de crenças subjetivas, geralmente associadas a questões políticas e culturais, que influenciam a interpretação da realidade, ao passo que a ciência baseia-se na observação, experimentação e evidências, seguindo métodos rigorosos para garantir objetividade. Por outro lado, o terrorismo é geralmente definido como o uso da violência, ameaça ou intimidação com o objetivo de alcançar fins políticos, ideológicos, religiosos ou sociais, visando gerar medo, coação ou desestabilização de sociedades, governos ou grupos específicos. Assim sendo, considerar as evidências científicas como terrorismo ideológico e ambientalista, acaba por representar por si só, uma visão ideológica negacionista da ciência, paradoxalmente, enfraquece as ações necessárias para proteger a sobrevivência da espécie humana perante crise climática.
Questionar cegamente as soluções científicas para enfrentar a crise climática desvirtua o debate e alimenta a demagogia. O verdadeiro risco não está nas políticas baseadas em evidências, mas sim na inércia que compromete o nosso futuro e a própria sobrevivência da humanidade.
Depois do verão mais quente de sempre e dos mais recentes tsunamis geopolíticos, que têm comprometido a estabilidade global e os compromissos internacionais para o combate às alterações climáticas, esta organização traz consigo uma vontade redobrada de fazer cumprir os compromissos portugueses quer ao nível nacional e internacional.
Este descuido permitiu que os oligarcas da era digital minassem os sistemas económico e político, enquanto que a União Europeia tenta agora recuperar a autoridade que lhe escapou por entre os dedos.
As imagens apocalípticas dos incêndios parecem, assim, uma premonição do caos que se avizinha, especialmente tendo em conta que acontecem mesmo antes da tomada de posse de Donald Trump, um dos mais notórios promotores do negacionismo climático a nível internacional.
As odes de revertermos a situação climática para onde caminhamos parecem cada vez mais escassas e o aproximar do final da década deixa-nos cada vez com menos tempo.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.
Queria identificar estes textos por aquilo que, nos dias hoje, é uma mistura de radicalização à direita e muita, muita, muita ignorância que acha que tudo é "comunista"