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Rússia: Confrontos com a polícia por causa de detenção de ativista

As autoridades abriram um inquérito contra alguns dos manifestantes sob a acusação de “distúrbios em massa" e uso de violência contra as autoridades, que podem implicar uma pena máxima de 15 anos de prisão.

Após um ativista dos direitos humanos ter sido condenado a quatro anos numa colónia penal, a polícia russa disparou gás lacrimogéneo e agrediu apoiantes do ativista com bastões em Bashkortostan, esta quarta-feira.

RusNews via REUTERS

Os protestos na Rússia são extremamente raros devido ao risco de condenações a penas de prisão, em qualquer protesto que as autoridades consideram não autorizado. As imagens mostraram vários apoiantes do ativista Fail Alsynov em confronto com a polícia perto do tribunal.

As autoridades abriram um inquérito contra alguns dos manifestantes sob a acusação de "distúrbios em massa" e uso de violência contra as autoridades, que podem implicar uma pena máxima de 15 anos de prisão. O número de pessoas que foram detidas ainda não foi revelado. 

"Aconselho-vos a ganharem juízo e a não arruinarem as vossas vidas", disse Rafail Divayev, ministro do Interior de Bashkortostan, aos manifestantes.

Numa época em que o presidente Vladimir Putin está em plena campanha eleitoral para se candidatar a um novo mandato de seis anos, as autoridades têm vindo a ser mais rígidas nos protestos autorizados.

A manifestação ocorreu em prol do ativista, tendo sido recebido com aplausos pelos manifestantes, que foram vistos a gritar em apoio e a tentar bloquear a entrada do tribunal após o anúncio de sentença.

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Fail Alsynov, ativista de 37 anos, foi acusado de insultar trabalhadores imigrantes num discurso que proferiu em abril de 2023, durante um protesto contra os planos de extração de ouro de Bashkortostan, situada no sul da Rússia.

Foi acusado de ter chamado "negros" aos centro-asiáticos e aos caucasianos, que constituem a maioria da população imigrante russa. No entanto, insiste que as palavras que utilizou na língua bashkir significam "pessoas pobres" e foram traduzidas de forma errada para russo.

Já os seus apoiantes afirmam que se tratou de uma "vingança tardia" pelo seu ativismo na prevenção da extração de soda num local que os habitantes locais consideram sagrado.

"Muito obrigado a todos os que vieram apoiar-me", disse o ativista após o veredicto ao RusNews. "Nunca esquecerei isto, não admito a minha culpa. Sempre lutei pela justiça, pelo meu povo, pela minha república." Acrescentou que "as pessoas vieram apoiar-me e não sei o que vai acontecer. Nós não queríamos isto. Um enorme obrigado a todos os que vieram apoiar-me".

Fail Alsynov foi também um dos líderes do Bashkort, um movimento popular criado para preservar a identidade étnica dos basquires, proibido em 2020 por ser considerado extremista.

No passado, o ativista também criticou a mobilização militar na região como um "genocídio do povo basquir" - uma etnia turca estreitamente relacionada com os tártaros que habita os montes Urais do sul -, pelo facto destas minorias étnicas russas estarem a ser enviadas para combater na Ucrânia, segundo a BBC.