A pequena ex-república soviética é um dos principais alvos das tentativas de reconquista de influência da Rússia e vai a votos no domingo.
As eleições legislativas do próximo domingo na Moldova podem parecer um acontecimento menor para o resto da Europa, mas as suas implicações para a segurança e a estabilidade do continente podem ser profundas.
Eleições na Moldova atraem atenção europeia devido a receios de influência russaKay Nietfeld/picture-alliance/dpa/AP Images
O país, candidato a aderir à União Europeia (UE), está sob vigilância de todos os grandes líderes europeus e protagoniza um recorde de observadores internacionais das suas legislativas.
A pequena ex-república soviética é um dos principais alvos das tentativas de reconquista de influência da Rússia, com Moscovo a ser acusado de gastar vários milhões para ganhar o voto dos eleitores e conseguir colocar no poder um partido pró-russo.
Mas porque é que estas eleições são tão importantes para o resto da Europa?
Apoio vital à Ucrânia
A Moldova desempenha um papel fundamental de apoio à Ucrânia. Embora esteja entre os países mais pobres da Europa, recebeu mais de 1,5 milhões de refugiados ucranianos, sobretudo no início da guerra, e acolhe agora mais de 100 mil.
Além disso, o país ajuda a transportar cereais de e para a Ucrânia através dos seus portos no Danúbio, oferecendo uma rota alternativa e aliviando a pressão sobre as rotas ucranianas do Mar Negro, frequentemente bloqueadas pela Rússia.
Se a Moldova se virar para Moscovo, a estrutura de apoio da Ucrânia ficará muito enfraquecida, minando a resiliência do leste da UE. Isto aumentaria o risco de ataques militares nas fronteiras europeias, com a Roménia, a Polónia e os países bálticos a ficarem particularmente ameaçados.
O que têm feito os países europeus?
O Presidente francês, Emmanuel Macron, juntamente com o chanceler alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, foram, no final de agosto, à Moldova para reforçar a unidade e o compromisso para com o país.
O Presidente russo, Vladimir Putin, já tinha sugerido que planeava ocupar toda a Ucrânia, aproximando as suas forças cada vez mais do resto da Europa.
Um Governo moldavo pró-Rússia pode oferecer uma base oriental para os ataques -- ou até mesmo abrir uma nova frente.
A Rússia já tem cerca de 1.500 soldados estacionados na Transnístria, uma região separatista pró-russa da Moldova na fronteira com a Ucrânia, que exigiu a independência em 2006, após uma votação que não foi reconhecida pelo Governo nem pela comunidade internacional.
Isto aumenta os riscos para a maioria dos Estados vizinhos, muitos dos quais pertencem à NATO. Os membros da NATO (a aliança militar que une europeus e EUA) têm deveres de defesa mútuos, ao abrigo do artigo 5.º, o que significa que devem ajudar um membro no caso de este ser atacado.
Qual é a situação atual da Moldova?
O Partido da Ação e Solidariedade (PAS), da Presidente pró-UE, Maia Sandu, ocupa atualmente 63 lugares dos 101 assentos do parlamento.
Desde que o partido assumiu o poder, em 2021, aproximou-se da UE, pedindo a adesão em 2021, após a invasão em larga escala da Ucrânia, tendo a Moldova recebido o estatuto de candidata em junho de 2022.
Em junho de 2024, as negociações de adesão foram formalmente abertas e, em julho de 2025, realizou-se a primeira cimeira UE-Moldova.
A população ainda apoia a adesão à UE, mas o PAS tem perdido apoiantes, segundo as sondagens.
Esta queda, de 52,8% nas eleições legislativas de julho de 2021, para 25,8% em agosto de 2025, resulta sobretudo da insatisfação interna com o partido, mas também da situação económica do país e da perceção de alta corrupção.
Que cenário é esperado para o pós-eleições?
O resultado eleitoral mais provável é que o PAS seja forçado a formar uma coligação com um ou mais partidos da oposição, grupos que defendem o afastamento da Moldova da Europa e a sua reaproximação à Rússia.
O PAS tem dominado o espaço político pró-UE, mas o recém-criado Bloco Alternativo pró-europeu deverá obter votos suficientes para ultrapassar o limite mínimo de 5% dos votos para entrar no parlamento.
Embora o PAS ainda possa obter a maioria dos votos, o Bloco Patriótico dos Comunistas, um grupo pró-Rússia liderado pelo ex-presidente Igor Dodon, é atualmente considerado a segunda maior força política.
Este grupo reúne vários partidos, incluindo o Partido dos Socialistas, o Partido dos Comunistas, o Coração da Moldova e o Futuro da Moldova. Dodon enfrenta acusações de corrupção durante o seu mandato presidencial e desvio de recursos estatais em larga escala.
Dodon nega todas as acusações e apresentou uma queixa ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
O que faz a Rússia?
A Moldova tornou-se um campo de testes para ataques cibernéticos russos e campanhas de desinformação em grande escala.
A interferência política russa tornou-se muito evidente durante as eleições presidenciais e referendo à entrada na UE, em 2024, com as tentativas de manipulação e influência estrangeira a serem amplamente documentadas. Espera-se uma interferência semelhante, ou maior, da Rússia nestas eleições.
Segundo o Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais, há uma campanha de desinformação em curso na Moldova, através de narrativas falsas partilhadas 'online' através de Inteligência Artificial.
O observatório identificou mais de 100 contas na rede social TikToK que publicaram 6.000 conteúdos nos últimos dois meses, sendo que 33% desses conteúdos (cerca de 2.000) continham desinformação ou conteúdo provocador.
Nas últimas semanas, a polícia realizou dezenas de rusgas por suspeita de financiamento político ilícito e, na segunda-feira, as forças de segurança detiveram 74 pessoas, acusando-as de tentarem desestabilizar o país.
O papel da diáspora
O país, cuja população não chega a 2,5 milhões de pessoas, tem mais de um milhão de cidadãos a trabalhar no estrangeiro.
A maioria destes emigrantes está situada em países da União Europeia, nomeadamente na Itália e Alemanha, mas também em Portugal e Espanha, sendo tendencialmente favoráveis à ideia e ao partido que defende a integração na Europa.
Esta diáspora foi a responsável pela reeleição, no ano passado, da Presidente Maia Sandu, uma europeísta que, em 2020, derrotou o chefe de Estado pró-russo Igor Dondon.
Todos os anos, entre 35.000 e 40.000 pessoas abandonam o país, um êxodo que poderá reduzir a população para 1,9 milhões até 2040, de acordo com as projeções do Centro de Investigação Demográfica.
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