Moradores do Complexo da Penha dizem ter encontrado 74 mortos depois da operação policial, que foram expostos numa praça. Secretário da Polícia Civil fala em apenas mais 61 corpos.
Um dia depois da megaoperação levada a cabo pela polícia civil e militar do estado do Rio de Janeiro e que já tinha contabilizado 64 vítimas mortais, eis que surgiram outros tantos corpos expostos na Praça São Lucas, no Complexo da Penha, uma das zonas visadas pela operação. A população fala em 74 corpos deitados sem roupas - para facilitar a identificação através de tatuagens e marcas de nascença ou cicatrizes - na praça, o que elevaria o número de mortos da intervenção para 138. As autoridades vieram, entretanto em conferência de imprensa, assumir a existência de 119 vítimas mortais.
Moradores expõem corpos não identificados na Penha, após megaoperaçãoAP Photo/Silvia Izquierdo
Os corpos, todos de homens, estavam numa zona de mata, onde se concentraram os confrontos entre as forças de segurança e traficantes. Os populares não excluem a existência de mais corpos ainda por recuperar entre as casas da favela e a zona da mata.
O governo do estado do Rio de Janeiro confirmou entretanto a existência de 119 mortos: 4 polícias e 115 narcoterroristas, alegadamente todos pertencentes ao Comando Vermelho.
Segundo a imprensa brasileira, haverá uma perícia para estabelecer se estas mortes estão ligadas à megaoperação.
Esta quarta-feira de manhã, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, já tinha classificado esta operação como um "sucesso" e que só os quatro polícias mortos seriam "vítimas". Por sua vez, críticos e ativistas descrevem esta ação como mais um exemplo de excessivo uso da força.
Na terça-feira, as autoridades entraram no Complexo da Penha e no do Alemão para dar cumprimento a 100 mandados de prisão contra membros do Comando Vermelho. Esta é já a operação policial mais mortífera da história da cidade. Estiveram envolvidos 2.500 polícias e soldados, em helicópteros, veículos blindados e a pé.
Depois dessa operação que durou o dia inteiro, a Associated Press descreve como os populares passaram toda a noite a recolher corpos. Os familiares que se concentraram junto aos corpos, gritavam por "justiça" e falavam em "massacre", acreditando que ainda não foram recolhidas todas as vítimas mortais deste confronto.
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Corpos expostos pelos moradores na Praça São Lucas após megaoperação da polícia brasileira no Rio de Janeiro
Ao final da manhã, as autoridades forenses foram recolher os corpos expostos na praça para levar a cabo as perícias.
Um dos ativistas locais, Raul Santiago, contou aos jornalistas que estava numa equipa que encontrou 15 corpos. "Vimos pessoas executadas: baleadas nas costas, baleadas na cabeça, esfaqueadas, pessoas amarradas. Este nível de brutalidade, de ódio espalhado - não há outra forma de descrevê-lo se não como um massacre."
No balanço que fez da operação ainda na terça-feira, o governador do Rio de Janeiro sublinhou que o estado está em guerra contra o "narco-terrorismo" e que todos os que morreram resistiram à ação policial.
A cidade tem já um histórico de megaoperações deste género. Em março de 2005, 29 pessoas foram mortas na região da Baixada Fluminense e, em maio de 2021, 28 pessoas foram mortas na favela do Jacarezinho.
O Comando Vermelho foi criado em 1979 nas prisões do Rio de Janeiro e é hoje considerada uma das organizações criminosas mais perigosas do mundo. Dedica-se principalmente ao tráfico de drogas e de armas, e o seu centro de operações situa-se no estado do Rio de Janeiro, onde controla algumas comunidades da cidade, embora tenha presença em grande parte do país, especialmente na região da Amazónia. A organização nasceu quando a ditadura militar concentrou nas mesmas prisões delinquentes comuns e membros de grupos de guerrilha com formação política e até militar.
Notícia atualizada às 16h15 com o número de mortos confirmado pelas autoridades e o reclamado pela população.
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