Caroline Darian, filha de Dominique e Gisèle Pélicot, foi fotografada com roupa interior que não era sua. "E se isso foi o que aconteceu a muitas vítimas? Não acreditam nelas por não haver provas", questiona.
A filha de Gisèle Pélicot, a mulher francesa vítima de violação em massa às mãos do marido, diz estar segura de que o pai, Dominique Pélicot, também abusou dela e deseja que ele não saia da prisão.
REUTERS/Sarah Meyssonnier
Caroline Darian (que adotou este apelido em agradecimento ao apoio dos irmãos, David e Florian) afirmou, em entrevistas à imprensa britânica, que não se reconheceu em fotografias suas que estavam no computador do pai e que a mostravam inconsciente, de roupa interior e t-shirt. "Passei por um efeito de dissociação. Tive dificuldades em reconhecer-me logo de início. Depois, o agente da polícia disse: 'Olhe, tem a mesma marca castanha na bochecha… É a Caroline.' Olhei para as duas fotografias de forma diferente. Estava deitada sobre o meu lado esquerdo como a minha mãe, em todas as suas fotografias", contou à BBC.
Ao jornal The Guardian, detalhou que nunca dormia naquela posição ou foi para a cama vestida daquela forma: além disso, a roupa interior com que foi fotografada não era sua. Por isso, diz ter a certeza de que o pai a abusou ou violou, apesar de o pai nunca o ter admitido. Caroline Darian disse que queria que ele o confessasse durante o julgamento, mas não o conseguiu.
"Eu sei que ele me drogou, provavelmente para abuso sexual. Mas não tenho provas", lamentou à BBC. "E se isso foi o que aconteceu a muitas vítimas? Não acreditam nelas por não haver provas. Não as ouvem nem as apoiam."
Caroline Darian lançou um livro sobre o que aconteceu à sua família, em que aborda o trauma e alerta para a questão da "submissão química", ou seja, crimes praticados depois de drogar as vítimas para que fiquem inconscientes, o que aconteceu com Gisèle Pélicot. Diz que tudo é feito com medicação acessível como "analgésicos, sedativos" e que o perigo costuma vir "de dentro".
Define como um "fardo terrível" viver como a filha do abusador e da vítima e garante que o pai não está doente. "Ele sabia perfeitamente o que fez, e não é um homem doente. É um homem perigoso. Não pode sair da prisão. Não pode", sublinha.
Funcionária de uma empresa de telecomunicações, além do que fez com o seu livro, quer também educar crianças sobre abusos sexuais. Sobre a mãe, garante estar "realmente orgulhosa": "Ela abriu a porta. Ela abriu caminho para outras vítimas de violência sexual. Ela disse-lhes que já não estão sozinhas. Isso é força. Por isso para mim ela é uma heroína... E ela fê-lo de maneira brilhante. Entrou naquele tribunal todos os dias com centenas de jornalistas, a ser escrutinada por todos, a ser humilhada por todos aqueles advogados [de defesa de Dominique Pélicot]. Francamente, tem que se ser forte para o fazer. Ela é uma mulher independente e forte. E fê-lo com dignidade."
Em dezembro, Dominique Pélicot, de 71 anos, foi condenado a 20 anos de prisão por violação agravada. 48 homens em julgamento foram dados como culpados de violação agravada, com dois culpados de agressão sexual.
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