Joël Le Scouarnec, de 73 anos, já tinha sido denunciado pelo FBI às autoridades francesas por visualizar imagens de abusos de crianças na dark web em 2004. Contudo, não foi impedido de se aproximar de menores.
Um cirurgião francês irá a julgamento este mês acusado de violar ou agredir sexualmente 299 crianças entre 1989 e 2014, naquele que é o maior caso de abuso sexual de crianças em França. O caso de Joël Le Scouarnec, de 73 anos, volta a abalar o país poucos meses depois de Dominique Pelicot ter sido condenado a vinte anos de prisão por ter sedado a ex-mulher Giséle durante décadas, enquanto convidada outros homens para a violarem.
REUTERS/Stephane Mahe
Joël Le Scouarnec trabalhou em vários hospitais públicos e privados na zona de Bretanha, no oeste de França. O cirurgião operava frequentemente crianças com apendicite, pelo que que o Ministério Público de Lorient acredita que "muitas vítimas estavam na sala de operações do hospital, sob anestesia, a recuperar após a cirurgia, em estado de sedação ou adormecidas, o que significa que não foram capazes de perceber o que lhes foi feito".
Em 2004, o cirurgião foi denunciado pelo FBI às autoridades francesas depois de ter sido apanhado a visualizar imagens de abusos de crianças na dark web, crime pelo qual foi condenado a uma pena suspensa de quatro anos de prisão. Não foi impedido de trabalhar com crianças e até continuou a sua atividade médica em hospitais por todo o país.
Em 2017, os vizinhos de Joël Le Scouarnec denunciaram-no à polícia e as buscas permitiram que fossem encontradas imagens de abusos, cadernos em que detalhava os abusos e identificava as crianças pelas iniciais, e uma coleção de bonecas por baixo das tábuas do chão da sua casa. Em 2020, o cirurgião foi condenado a 15 anos de prisão por abusos a quatro crianças, uma delas hospitalizadas, num julgamento que não foi público.
Agora vai ser julgado por violação e agressão sexual de 299 pacientes, 158 do sexo masculino e 141 do sexo feminino. A idade média das vítimas é de 11 anos no momento do crime: 256 tinham menos de 15 anos. O julgamento deverá durar quatro meses e terá por base os cadernos onde Joël Le Scouarnec relatava os abusos. As autoridades estão a cruzar os dados dos cadernos com os registos hospitalares para tentarem identificar as vítimas.
O cirurgião confessou alguns dos crimes, mas negou ter cometido outros. Aos investigadores, explicou "o seu modus operandi, a sua determinação em agir desta forma, e as estratégias de dissimulação para não correr o risco de ser descoberto", indicou o procurador Stéphane Kellenberger.
Francesca Satta, advogada de dez das vítimas, partilhou que foi devastador para muitas vítimas, agora com 30 e 40 anos, ouvir excertos dos diários. Dois homens cometeram suicídio depois de terem sido informados pela polícia sobre o que lhes tinha acontecido: afinal, muitas vítimas nunca deram pelos abusos.
A advogada acredita que o julgamento de 2020 revelou "um manipulador, sem empatia ou compreensão das outras pessoas, que considerava objetos sexuais": "De certa forma, esta é o julgamento de toda uma sociedade. Na altura, em França, havia um tipo de respeito pelas chamadas pessoas notáveis da sociedade, advogados ou médicos e cirurgiões. Estas pessoas eram de confiança e não eram vistas a cometer crimes. O julgamento abrirá também a porta a uma verdadeira análise judicial dos abusos contra crimes em França e da forma como devem ser tratados, em termos de penas e de prevenção".
A organização La Voix de L’Enfant (A Voz da Criança) diz ter existido uma "série de falhas e disfunções" a nível institucional que permitiram que o cirurgião continuasse a cometer crimes mesmo depois de o FBI informar as autoridades francesas sobre as atividades online de Joël Le Scouarnec.
O mais recente julgamento contra o cirurgião arranca dia 24 de fevereiro no tribunal de Vannes e pode resultar numa pena de 20 anos de prisão para Joël Le Scouarnec.
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