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Durão: UE tem de lidar "de forma mais inteligente" com o tema das migrações

Tema das migrações foi apontado pelo actual presidente não executivo do Goldman Sachs como uma das principais motivações para a escolha dos britânicos de saírem da União Europeia.

O antigo presidente da Comissão Europeia Durão Barroso, actual presidente não executivo do Goldman Sachs, defendeu este domingo que a União Europeia tem de "lidar de forma inteligente" com o tema das migrações, considerando-as decisivas para o Brexit.

Imigrantes
Durão Barroso
Calais refugiados França
Imigrantes
Durão Barroso
Calais refugiados França

"A política migratória da União Europeia não pode ser uma decisão tomada lá longe, em Bruxelas, tem de ser lidada de uma forma mais inteligente. Temos toda a capacidade para integrar os refugiados, temos de ser abertos e humanitários, mas temos de assumir que não podemos aceitar toda a gente; para haver liberdade de movimentos dentro da UE, temos de ser credíveis a defender as fronteiras externas", defendeu Durão Barroso numa das suas intervenções no plenário de abertura da Conferência Global da Horasis, que decorre até terça-feira no Estoril, no concelho de Cascais.

"Temos de ser realistas e dizer que sim, mantemo-nos abertos, mas ao mesmo tempo temos de mostrar que somos capazes de controlar os fluxos ilegais", disse o antigo líder europeu.

O tema das migrações atravessou todo o debate desta tarde e foi apontado por Barroso como uma das principais motivações para a escolha dos britânicos de saírem da União Europeia.

"A imigração foi um tema central, foi uma das principais motivações na decisão dos eleitores de escolherem o 'Brexit', e quando vemos a importância deste tema [em eleições] em dois mais tradicionalmente abertos países do mundo, os Estados Unidos e o Reino Unido, percebemos que é o tema do momento", vincou o antigo primeiro-ministro português.

O antigo embaixador dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU) John Negroponte e o empresário Vijay Eswaran participaram também na sessão.

Num debate sobre os grandes temas actuais, desde os nacionalismos ao proteccionismo económico, passando pela importância de África como reserva de crescimento mundial e a instabilidade crónica no Médio Oriente, a plateia quis saber se as democracias estão mais bem preparadas para lidar com estes desafios do que os regimes autoritários, e os palestrantes concordaram.

"As democracias estão mais bem equipadas do que os regimes autoritários, que muitos pensam que são fortes, mas são na verdade fracos, podem ruir de um dia para o outro", disse Barroso, lembrando a revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal.

Questionado sobre a Hungria e a Polónia, o antigo presidente da Comissão Europeia assumiu estar "preocupado com o Estado de direito nalguns países", mas salientou que "as sociedades e o ambiente europeu são suficientemente fortes para impedir que esses países vão em mau caminho".

O que é fundamental, concluiu, "é um diálogo honesto, porque é mau afastar os países para um canto, isso só reforça o nacionalismo, e as críticas têm de ser feitas de forma inteligente, porque só há pouco tempo a democracia foi instaurada e o receio de intervenção de um poder externo é um pensamento muito presente".

Editorial

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