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Centenas protestam contra apoio de Bolsonaro à ditadura militar no Brasil

Os manifestantes mostraram fotografias de algumas pessoas desaparecidas durante a ditadura, em São Paulo.

Uma manifestação convocada por partidos de esquerda e movimentos sociais protestou esta segunda-feira em São Paulo contra as contínuas declarações de apoio do Presidente brasileiro à ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985.

Várias centenas de pessoas reuniram-se na Avenida Paulista, no coração financeiro do Brasil, para expressar a sua rejeição ao regime militar, responsável por 443 assassínios ou desaparecimentos por razões políticas.

Os manifestantes mostraram fotografias de algumas pessoas desaparecidas durante a ditadura, um dos capítulos mais sombrios da história do Brasil e cuja verdade oficial tem sido repetidamente questionada pelo Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, capitão do Exército na reserva.

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Não é fácil para um filho manter a compostura frente a um homem que torturou a mãe - que em 1972 foi colocada nua e grávida dentro de uma cela com uma jibóia, tendo de se manter imóvel. Ou ouvir a pessoa que, ao denunciar os seus pais, os transformou em presos políticos durante a ditadura militar no Brasil.

Não é fácil para um filho manter a compostura frente a um homem que torturou a mãe - que em 1972 foi colocada nua e grávida dentro de uma cela com uma jibóia, tendo de se manter imóvel. Ou ouvir a pessoa que, ao denunciar os seus pais, os transformou em presos políticos durante a ditadura militar no Brasil.

Entre os desaparecidos na época está Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, e cuja memória foi lembrada durante a marcha pacífica realizada em São Paulo sob o 'slogan' "Ditadura Nunca mais".

Bolsonaro disse recentemente que sabia a verdade sobre o paradeiro de Santa Cruz e atribuiu a sua morte a um grupo de esquerda, contradizendo novamente os documentos da Comissão da Verdade.

Estas palavras somam-se a uma longa lista de declarações controversas, infundadas ou falsas sobre a ditadura e reabriram as feridas deixadas por um período que foi marcado pela repressão e por milhares de casos de tortura, como lembraram os manifestantes.

"O Presidente do Brasil, Bolsonaro, está resgatando um discurso histórico, que ele não inventou: que a ditadura do Brasil não existia e que era suave. Precisamos levar a cabo essa luta novamente, para dizer que a ditadura existiu, assassinou, causou o desaparecimento", disse à agência de notícias Efe Viviana Mendes, que faz parte de uma comissão de familiares de mortos e desaparecidos políticos.

O professor Lucas Marcelino saiu para as ruas de São Paulo para "resgatar a memória, a verdade e a justiça" e continuar a lutar para "encontrar os restos mortais dos políticos desaparecidos e fazer justiça aos que foram mortos e torturados" .

Como responsáveis pela tortura, o relatório da Comissão da Verdade identificou 377 agentes da ditadura que não puderam ser julgados por uma grande amnistia concedida em 1979 pelo próprio regime e que beneficiou militares e membros de grupos armados de esquerda.

"O Brasil não puniu os seus torturadores", lamentou Marcelino, em declarações à Efe.

Um dos líderes da repressão ditadorial que beneficiou da amnistia foi Carlos Alberto Brilhante Ustra, que Bolsonaro exaltou enquanto ainda era deputado, durante o julgamento político que levou à destituição de Dilma Rousseff (2011-2016).

No seu discurso, Bolsonaro referiu-se a Ustra como o "pavor de Dilma Rousseff", presa e torturada pelo coronel durante a ditadura.

No dia de seu controverso discurso, em 2016, Bolsonaro estava acompanhado pelo seu filho e também deputado Eduardo Bolsonaro, que hoje, mais uma vez, intensificou a polémica ao questionar nas redes sociais a ajuda recebida pelas vítimas do regime militar.

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