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Assessor de eurodeputado alemão detido sob suspeita de ser espião chinês

Andreia Antunes
Andreia Antunes 24 de abril de 2024 às 07:00
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Jian Guo foi acusado de ser "funcionário dos serviços secretos chineses" e de "transmitir repetidamente informações sobre as negociações e decisões no Parlamento Europeu" aos serviços secretos chineses.

O assessor de um eurodeputado alemão foi detido por suspeita de espionagem "particularmente grave" em benefício da China. O funcionário foi identificado emcomunicadocomo Jian Guo pelos procuradores alemães. É acusado de trabalhar para os "serviços secretos chineses" e de "transmitir repetidamente informações sobre as negociações e decisões no Parlamento Europeu" aos serviços secretos chineses.

Maximilian Krah
Maximilian Krah REUTERS/Annegret Hilse

Jian Guo trabalhava para Maximilian Krah, que na Alemanha pertence ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD). É ainda o principal candidato do AfD às eleições para o Parlamento Europeu. Em comunicado, disse ter sabido da detenção através da imprensa. "Não disponho de mais informações", declarou Maximilian Krah, tendo acrescentado que "a atividade de espionagem para um Estado estrangeiro é uma acusação grave" que, a ser provada, levará ao despedimento imediato do empregado.

Já Nancy Faeser, ministra do Interior da Alemanha, afirmou que, se as acusações forem provadas, trata-se de "um ataque à democracia europeia a partir do seu interior", acrescentando que os serviços de segurança alemães aumentaram massivamente a contraespionagem devido às ameaças híbridas russas e à espionagem chinesa.

A detenção de Jian Guo ocorreu em Dresden, onde o funcionário vive com a sua mulher e família. Ocorre uma semana depois do presidente alemão Olaf Scholz ter visitado a China para promover as relações económicas bilaterais e discutir o apoio político e logístico de Pequim à Rússia na guerra contra a Ucrânia.

Quem é o assessor detido?

Jian Guo, um homem de 43 anos, tem dupla nacionalidade alemã e chinesa. Veio para a Alemanha como estudante, tendo mais tarde trabalhado como empresário para uma empresa de painéis solares e um comerciante de LED's.

Tornou-se assistente de Maximilian Krah em Bruxelas quando este se tornou membro do Parlamento Europeu, em 2019. Pouco tempo depois, acompanhou o deputado numa viagem à China, acreditando-se que nessa altura já estaria a trabalhar para a China como espião, segundo os procuradores.

Jian Guo ofereceu-se como informador às autoridades de segurança alemãs há mais de 10 anos, segundo o jornal alemão Zeit. No entanto, surgiram suspeitas de que seria do interesse do Estado chinês. Também se tornou evidente que era apoiante do presidente chinês, Xi Jinping, e que se manifestava a favor da integração de Taiwan na China.

Criou ainda a organização Neue Seidenstraße (Nova Rota da Seda), que segundo os investigadores, era um grupo de interesses para influenciar a Alemanha em nome do Governo chinês.

Em janeiro deste ano, o arguido transmitiu repetidamente informações sobre negociações e decisões no Parlamento Europeu aos serviços secretos, acreditam as autoridades. Também espiava as figuras da oposição chinesa na Alemanha. Foi finalmente detido em Dresden na madrugada de terça-feira, dia 23, e os seus apartamentos foram revistados.

Espionagem na Europa

Na segunda-feira, dia 22, foram detidos três cidadãos alemães sob suspeita de fornecerem informações sobre tecnologia militar aos serviços secretos chineses a troco de pagamento.

Nesse mesmo dia, mas no Reino Unido, dois homens foram acusados de entregar documentos à China entre 2021 e 2023, tendo um deles trabalhado como investigador parlamentar para um deputado do Partido Conservador inglês.

Um outro candidato da AfD às eleições para o Parlamento Europeu, o deputado alemão Petr Bystron, recebeu dinheiro de um site de comunicação social pró-russo, noticiou a revista alemã Der Spiegel. O partido negou as alegações.

Já a 25 de março, a Grã-Bretanha acusou Pequim de tentar invadir contas de email de deputados britânicos críticos da China e afirmou que uma entidade chinesa estaria por detrás de um ataque de hackers ao órgão de vigilância eleitoral que comprometeu os dados de milhões de pessoas.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China rejeitou as acusações afirmando que a "propaganda" tem como objetivo desacreditar a China. Wang Wenbin, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, disse numa conferência de imprensa que a China sempre aderiu ao princípio de "não interferência" nos assuntos internos de outros países e que esperava que as "pessoas relevantes" do lado alemão "abandonasse a sua mentalidade de Guerra Fria".

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