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"Nas democracias, as máfias controlam eleições em nome dos políticos para depois controlarem os mercados onde estão inseridas", alega académico italiano Federico Varese.
O académico italiano Federico Varese, autor do livro "MafiaLife", sobre o crime organizado, alerta que em regimes democráticos a atribuição de competências ao poder autárquico cria vulnerabilidades que elevam o risco de corrupção.
"Este é um dos pontos mais controversos do meu trabalho: o desempenho das máfias nos contextos democráticos, e é por isso que eu aviso os políticos sobre o poder local. As máfias querem sempre dominar os sistemas políticos locais que dispõem de fundos do Estado", disse à Lusa Federico Varese professor de Criminologia na Universidade de Oxford, no Reino Unido.
"No mundo local, não é preciso muita gente para conseguir eleger um político. Se as máfias conseguem controlar a eleição de um presidente de uma câmara municipal, conseguem controlar o sistema político. Uma vez controlado o poder local, é mais fácil controlar os esquemas de autorização para o setor da construção civil, por exemplo, um dos grandes negócios da máfia, onde quer que seja", acrescenta o autor do livro "Mafia Life", que foi publicado este mês em Portugal.
No livro, Varese analisa o contexto histórico, mas sobretudo as dinâmicas atuais da Máfia italiana e italo-americana, os Vori da Rússia pós-soviética, a Yakuza japonesa e as Tríades chinesas de Macau e Hong Kong.
O autor explica que, por definição, as máfias tradicionais são grupos independentes com chefia própria e com raízes profundas nos territórios ou nas comunidades onde se encontram dominando a esfera de poder e que, ironicamente, precisam do capitalismo e de Estados democráticos para prosperarem.
No caso do poder local, e usando o exemplo da recente transferência do orçamento do Serviço Nacional de Saúde britânico para a autoridade local de Manchester, o autor do livro indica que ficam criadas as condições para se multiplicarem as possibilidades de ocorrência de corrupção na região, alertando os políticos sobre a falta de debate público sobre o assunto.
"Nas democracias, as máfias controlam eleições em nome dos políticos para depois controlarem os mercados onde estão inseridas. Precisam de capitalismo e de economia de mercado para exercerem controlo através da criação de cartéis", explica.
Do ponto de vista político, refere, as máfias são tradicionalmente de direita ou conservadoras, e "atacam os sindicalistas, porque os sindicatos defendem os trabalhadores e posicionam-se contra o patronato e, por isso, são perseguidos sendo assassinados muitos sindicalistas".
No livro, Federico Varese conclui igualmente que a recente crise económica (2008) que afetou os países do sul da Europa provocou alterações no crime de extorsão praticado pelas máfias italianas junto dos comerciantes que, num quadro de colapso financeiro, deixaram de ter dinheiro.
Na mesma altura, na Sicília, sul de Itália, a presença simultânea de grupos de crime organizado oriundos do continente africano e das antigas repúblicas soviéticas provocaram o aumento da violência pelo controlo de territórios.
Além de "Mafia Life", Varese é autor do livro "The Russian Mafia". Publica habitualmente no jornal La Stampa e foi consultor do escritor britânico John Le Carré (pseudónimo de David Cromwell), autor de obras como "O Fiel Jardineiro" e "Um Traidor dos Nossos".
"Mafia Life -- Como é a vida, o amor e a morte no seio do crime organizado?", de Federico Varese (Edições Desassossego, 298 páginas), inclui um glossário e tabelas sobre regras e estruturas de comando das várias máfias.
"As máfias querem sempre dominar os sistemas políticos locais"
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