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Alemanha pode enfrentar eleições antecipadas depois da saída do ministro das Finanças 

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 07 de novembro de 2024 às 10:01
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No seguimento da demissão Olaf Scholz a pediu um voto de confiança ao parlamento no dia 15 de janeiro. Se esse voto não for aprovado é bastante provável que seja marcada uma eleição antecipada para março. 

A coligação tripartidária que governa a Alemanha ruiu na noite da passada quarta-feira depois de o chanceler Olaf Scholz ter anunciado a demissão do ministro das Finanças, Christian Lindner, por divergências nos gastos e reformas económicas. 

Tobias Schwarz/Pool via REUTERS/File Photo

"Caros concidadãos, gostaria de vos poupar desta decisão difícil, especialmente em tempos com estes, quando a incerteza está a crescer", começou por afirmar o líder alemão antes de partilhar que "com muita frequência, o ministro Lindner bloqueou leis de forma inapropriada. Com muita frequência ele se envolveu em táticas político-partidárias mesquinhas. Com muita frequência ele quebrou a minha confiança".  

Christian Lindner e o seu partido insistiram que o governo alemão deveria aprovar regras mais rígidas quanto aos gastos do governo e cortar impostos, apesar de os seus parceiros de esquerda quererem manter os gastos sociais e impulsionar a indústria alemã. A crise tornou-se ainda mais clara depois de o ministro das Finanças ter emitido um documento político com exigências por reformas económicas liberais que eram quase impossíveis que os outros dois partidos aceitassem, especialmente porque incluía várias diminuições de impostos e uma redução nas políticas de proteção climática, para estimular o crescimento económico.  

Scholz afirmou ainda que pediu a Linder para avaliar o limite de gastos de forma a conseguir enviar mais ajuda à Ucrânia, mas o ministro recusou afirmando que essa era uma medida que "violava o juramento de posse".  

Christian Lindner já reagiu à demissão e defendeu que "Olaf Scholz não reconhece a necessidade de um novo despertar económico no país" e "há muito tempo que minimiza as preocupações económicas dos cidadãos".  

A partir de agora ficou aberto o caminho para que ocorram eleições antecipadas nos próximos meses uma vez que a demissão retirou o apoio do Partido Democrático Livre (FDP) ao governo e levou Olaf Scholz a pedir um voto de confiança do parlamento ao dia 15 de janeiro. Se esse voto não tiver maioria é bastante provável que seja marcada uma eleição antecipada para março. 

Uma eleição antecipada deve levar a um novo governo liderado pela União Democrata Cristã (CDU), que atualmente aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto por uma larga margem. Apesar de ser um partido considerado de centro-direita nos últimos anos sofreu uma viragem brusca à direita no que toca a políticas de migração.  

O FDP é o menor partido da coligação que governa atualmente e aparece nas mais recentes sondagens com apenas 4% das intenções de voto, uma percentagem inferior ao mínimo necessário para se ter representação no parlamento alemão.  

A Alemanha pode se ver envolvida numa crise política ainda maior após a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos uma vez que o país depende do poderio militar norte-americano para a defesa e teme que as políticas protecionistas prometidas pelo republicano prejudiquem a indústria alemã. Uma análise do Instituto Económico Alemão estima que uma nova guerra comercial pode custar à Alemanha 180 mil milhões de euros durante os quatro anos da presidência de Trump.  

Era esperado que as ameaças trazidas pelo resultado das eleições americanas unissem a coligação, por medo de novas eleições que prejudicassem a maior economia europeia, no entanto a crise está cada vez mais iminente.  

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