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Trump ameaça Canadá, México e China com novas taxas

Ana Bela Ferreira 26 de novembro de 2024 às 10:06

Mercados reagiram ao anúncio do presidente eleito, penalizando os mercados afetados e valorizando o dólar. Para o republicano está em causa a luta contra as drogas e o controlo da imigração ilegal.

Donald Trump anunciou que pretende aplicar tarifas aos seus principais parceiros comerciais - Canadá, México e China. Numa publicação na sua rede social (Truth Social) explicou como pretende colocar este plano em ação logo que tome posse como presidente dos EUA, a 20 de janeiro de 2025. Um anúncio que já teve efeito nos mercados, com o dólar a subir e os mercados europeus a resentirem-se, sob a ameaça de serem os próximos nas taxas americanas.

Brandon Bell/Pool via REUTERS/File Photo

Segundo as indicações do republicano vão ser aplicadas taxas de 25% às importações do Canadá e do México até que estes países apertem o cerco às drogas, em especial fentanil, e à passagem de imigrantes ilegais na fronteira. Este passo parece violar os acordos de comércio livre. "A 20 de janeiro, numa das minhas muitas primeiras ordens executivas, vou assinar todos os documentos necessários para cobrar ao México e ao Canadá 25% de taxa sobre todos os produtos que entrem nos EUA", escreveu, acrescentando ambos "têm o poder para rapidamente resolver este problema. Está na hora de pagarem caro!"

Mais de 83% das exportações mexicanas, no ano passado, tiveram como destino os EUA, tal como 75% das canadianas.

Esta medida surge para conter a entrada de imigrantes ilegais, cujas detenções registaram um número recorde, durante a administração Biden. Ainda assim, as travessias ilegais caíram drasticamente este ano quando Joe Biden instituiu novas restrições fronteiriças e o México aumentou o policiamento.

Para a China, Trump promete "uma taxa adicional de 10%, sobre qualquer tarifa". A política de aumentar as taxas sobre as importações é, segundo o presidente eleito, uma forma de "pôr a América em primeiro lugar". 

Estas taxas adicionais podem também trazer problemas a empresas estrangeiras, como as empresas automóveis e eletrónicas asiáticas que usam o México para produção a baixo custo e entrada no mercado norte-americano.

A juntar a estes entraves, estas taxas podem violar o acordo assinado pelo próprio Trump, em 2020, com os seus vizinhos para um mercado praticamente livre entre os três países. Está previsto que este acordo seja revisto em 2026.

Após este anúncio, Trump e o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, falaram ao telefone para discutir tarifas e segurança fronteiriça, indicou uma fonte do Canadá à agência Reuters. "Foi uma boa conversa e eles vão manter-se em contacto", acrescentou.

Do lado da fronteira sul, Ricardo Monreal, deputado do partido no poder, apelou, na rede social X, a que "sejam usados os mecanismos bilaterais e institucionais de combate aos tráficos humano, de drogas e de armas". "A escalada de retaliações comerciais só prejudicaria os bolsos das pessoas e está longe de resolver os problemas citados", acrescentou.

Também em relação à China, Trump considera que este país não está a fazer o suficiente para evitar a entrada de fentanil no território norte-americano através da fronteira com o México. O porta-voz da embaixada chinesa em Washington, Liu Pengyu, respondeu à proposta: "A China acredita que a cooperação entre a China e os EUA é benéfica para os dois. Ninguém vai ganhar uma guerra de tarifas ou de comércio", afirmou.

O responsável lembrou ainda os passos que a China deu, desde a cimeira EUA-China, para reduzir a exportação de ingredientes relacionados com a produção de fentanil, a principal causa de overdoses nos Estados Unidos. "Tudo isto prova que a ideia de que a China conscientemente está a permitir que os traficantes de fentanil cheguem aos EUA é totalmente contrária aos factos e à realidade."

Os economistas acreditam que os planos de Trump em matéria de tarifas aduaneiras levariam as taxas de importação dos EUA de volta aos níveis da era dos anos 1930, alimentariam a inflação, provocariam o colapso do comércio com a China, provocariam retaliações e reordenariam drasticamente as cadeias de abastecimento.

A questão é que, segundo os especialistas, estas taxas vão ser pagas pelas empresas que importam os produtos, e estas vão transferi-las para os consumidores ou aceitam lucros mais baixos. Trump tem alegado que serão os países terceiros a pagar estas taxas e não as empresas que importam os produtos, porém, não foi isso que se verificou no caso das tarifas que se mantêm do seu primeiro mandato.

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