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Um vinho para o fim de semana: Campolargo, joia da Bairrada

Leve de corpo mas impactante no paladar, o Vinha das Corgas é uma amostra da potencialidade da Bairrada, por uma fração do preço.

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Um vinho para o fim de semana: Campolargo, joia da Bairrada
Pedro Henrique Miranda 05 de abril de 2025 às 10:00

No sempre confuso e saturado mundo dos vinhos de supermercado, é cada vez mais comum encontrarmos rótulos repletos de informação confusa e, por vezes, mesmo contraproducente: este é "Reserva" (designação que não o exige por lei, mas que quase sempre significa que o vinho passou por madeira), aquele é "Escolha" (o que poderá, mas não necessariamente, implicar mais qualidade); um é "Premium" (esta, sim, perdeu todo o significado) e o outro vencedor de medalha de ouro no Concurso Internacional Vínico dos Vinhos.

Feitos de mais publicidade do que informação, os rótulos não são particularmente esclarecedores no que ao teor da garrafa diz respeito, e embora todo o ambiente de garrafeira pudesse melhorar a este respeito - em alguns supermercados europeus, as garrafas estão divididas por perfil em vez de por região ou país - há, ainda assim, algo de dignificante num rótulo que dispensa floreados desnecessários, apresentando-se, em vez disso, com um engenho: simplicidade.

É o caso de algumas garrafas da Campolargo, produtor cuja presença nas montras de supermercado intriga pelo seu rótulo: um emblema algo bucólico, algo mistificante, abaixo do qual se lê apenas o nome do produtor e da referência - neste caso, Vinha das Corgas. É preciso interessar-se o suficiente pela garrafa para perceber mais, no contrarrótulo: que se trata de um vinho da Bairrada, feito de Baga, a sua casta-rainha, e de Alfrocheiro, e que já leva um tempo respeitável de garrafa. Tudo boas indicações para um vinho que custa pouco mais de €7.

DR

A Bairrada, lar dos grandes espumantes portugueses, brancos perfumados e exuberantes e tintos nobres e elegantes, não tem a mesma dimensão (ou capacidade produtiva) de um Douro ou Alentejo, motivo pelo qual nem sempre é fácil encontrar bons negócios entre as garrafas mais baratas. Na cadeia em questão - o Continente, para a qual a Campolargo produz este vinho em exclusividade -, o Vinha da Curia, engarrafado pela Ravasqueira, é uma opção ainda mais em conta, mas nem de perto tão refinada e impactante quanto este Vinha das Corgas.

Deixe-o respirar depois de aberto, depositando-o num recipiente largo por uns minutos, e revela-se uma amostra da potencialidade da Bairrada, por uma fração simpática do preço. É um tinto que respeita a expressão das suas castas na região (ambas dadas a perfis de corpo mais esguio, menos extraído e de caráter mais textural) mas cuja idade e estágio em madeira lhe arredonda os taninos, envelhece a fruta e confere uma robusta envolvimento de tons abaunilhados e achocolatados - tudo isto se sente por camadas neste vinho admiravelmente bem construído.

O tratamento do estágio implica também que, apesar de ostensivamente leve de corpo, este seja um vinho quente e muito marcante no paladar - a receita ideal de vinho tinto para muitas pessoas -, sendo, por isso excelente para acompanhar carnes, queijos e molhos com poucas restrições. Leve-o para o jantar, e dificilmente fará má figura.

"Um vinho para o fim de semana" é uma rubrica semanal em que lhe sugerimos, todos os sábados, uma referência para provar ao longo do fim de semana - uma rubrica a cargo do jornalista da SÁBADO Pedro Henrique Miranda. Pode ver as sugestões anteriores aqui:

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