Como Yann Tiersen está a fazer uma tour boa para o planeta

O músico regressa com uma atuação a solo de piano e música electrónica para promover o novo álbum "Rathlin from a Distance | The Liquid Hours".

Como Yann Tiersen está a fazer uma tour boa para o planeta
Ângela Marques 06 de abril de 2025 às 10:00

É público e notório: há artistas que amam Portugal. Yann Tiersen é um desses que não faz uma digressão sem passar - pelo menos - por Lisboa. Em novembro, o músico volta a este país à beira mal plantado - e, nem de propósito, vem com um espírito ecológico.

Vamos primeiro aos factos: Yann Tiersen, que explodiu para o mundo quando compôs a banda sonora de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, estará a 11 de novembro no Coliseu do Porto AGEAS e a 12 de novembro no Sagres Campo Pequeno. A melhor notícia: os bilhetes já estão disponíveis para compra.

Vamos agora à história: Yann Tiersen quer ajudar a travar a crise climática, pelo menos naquilo que lhe diz respeito. Para isso, está "a redefinir o conceito de digressão e a desafiar as normas capitalistas", como explicou em comunicado.

A missão começou na digressão de inverno pela Europa (que fez de Brest a Tallinn) e que justamente apelidou de solitária - fê-la sem equipa técnica e apenas na companhia do seu cão. Mais: conduziu a carrinha a uma velocidade máxima de cerca de 100 km/h e evitou hotéis. Como? Dormiu em quintais de pessoas com quem se foi cruzando. 

Também se deslocou no barco - na verdade, de veleiro, o veleiro Ninnog, de que é proprietário. Com ele, navegou pela Irlanda, Ilhas Faroé, Escócia, Ilhas Shetland, País de Gales e Cornualha (uma lista em atualização, já que em breve quer passar pelo Ártico).

Sem lista de exigências de camarim, Yann Tiersen escolheu palcos que lhe permitissem estabelecer um contacto mais próximo quer com o público quer com as equipas de produção locais.

Agora, que vai apresentar um novo disco, pretende manter essas regras. A Portugal vem apresentar Rathlin from a Distance | The Liquid Hour, um álbum dividido em duas partes com as caraterísticas sónicas únicas. O disco arranca com oito faixas de piano instrumental introspetivo - resultado da experiência individual no inverno.

O músico, conhecido pelas suas propostas vanguardistas, explicou, na apresentação do disco: "Há algo de transformador em estar no mar. Longe do ruído e do peso do mundo, somos deixados perante as forças cruas e indomáveis da natureza - e perante nós próprios. É um espaço onde podemos começar a desafiar as nossas crenças, a nossa identidade, o nosso género - até mesmo a pessoa que pensávamos ser. Comecei a libertar-me das expectativas, construções e papéis que a sociedade nos impõe. As ondas exigem honestidade."

Na segunda parte, The Liquid Hour, há uma mistura de estilos musicais, da eletrónica aos ritmos psicadélicos. Terá sido uma experiência ao leme do seu veleiro, "com Belfast a cintilar ao longe", que ditou as cinco faixas: "Penso nas feridas deixadas pelos sistemas que nos esmagam, sinto a fúria a borbulhar - antiga, crua, elétrica. Queima através de mim. A água torna-se num espelho da minha raiva. E da esperança. Há uma guerra a travar contra os ramos sufocantes do capitalismo, que prendem as nossas raízes e roubam a nossa luz." 

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