Fora do mundo do vinho (leia-se: no mundo real), é comum encontrarmos, além dos consumidores de vinho, a estranha oposição entre os consumidores de branco e os de tinto. Os primeiros, desconfiados de tintos num País em que sempre foram ubíquos, costumam resistir ao seu peso e adstringência; os segundos, alguns dos quais podem nem sequer considerar vinho branco como verdadeiro vinho, desdenham da sua acidez e amargor descontrolado.
De um lado e do outro, vem a sentença, sempre injusta e generalizada: "Não gosto de tinto/branco". Reação impulsiva, mas é possível, ainda assim, empatizar com os adeptos clubísticos dos tintos num ponto: é manifestamente mais difícil encontrar um branco decente a um preço acessível do que o seu equivalente tinto. Se decidimos resignar-nos pelo mau, como quando pedimos os vinhos a jarro de tasca, a situação piora: um mau tinto dificilmente será bom, mas um mau branco é frequentemente péssimo.
É por fenómenos como estes que a descoberta do Casa Velha Branco se revelou tão significativa. Encontramo-lo pela primeira vez num restaurante, pela modesta quantia de €12 - simpático, tendo em conta que estes estabelecimentos frequentemente triplicam o P.V.P. (Preço de Venda ao Público) das garrafas. Pelas nossas contas, este vinho custaria, na verdade, cerca de €4, o que não anda muito longe da verdade nas grandes superfícies onde é vendido.
Se o vinho já era surpreendente só pelo preço, ainda mais ficou quando o provámos: notas simples mas vívidas de citrinos no nariz, e, na boca, um perfil com muita acidez, mas equilibrado entre o floral e o cítrico, e com excelente frescura - uma elegância na simplicidade que só poderia vir do Douro, engarrafado num preço que só poderia ser praticado por uma produção massiva como a da Adega de Favaios.
Se é mais conhecida fora do norte pelo seu ubíquo Favaíto, a verdade é que a adega produz uma abundância de vinhos tranquilos competentes e a preços interessantes sob o nome Casa Velha: as gamas Reserva e Grande Reserva, para apreciadores de mais madeira, e os monocastas, também brancos, para apreciadores de especialidades - o Moscatel Galego, muito doce, o Gouveio, muito seco, e o Samarrinho, bastante raro.
O ponto de rebuçado, no entanto, reside no seu Branco, vinificado de uma mistura harmoniosa de Viosinho e Gouveio, além de uma pequena percentagem de Moscatel Galego, e que até faz estágio parcial em barricas usadas para uma ligeira complexidade acrescentada - à venda por €5,50 na página da Adega de Favaios, e a não deixar passar se for encontrado em cartas de restaurantes.