Qual é a grande casta branca portuguesa? Olhando para a diversidade do País, cada região reclamou para si uma variedade por excelência: no Tejo, o aromático Fernão Pires, e no Alentejo, o robusto Antão Vaz; nos Vinhos Verdes, reina o elegante Alvarinho enquanto, nas ilhas, é o Verdelho o preferido; o Dão é conhecido pelos grandes Encruzados e, mesmo ao lado, na Bairrada, a Bical produz vinhos finos e elevados.
Todas essas castas convivem, nas respetivas regiões, com uma variedade ubíqua, o Arinto, valorizada pela sua versatilidade - tem potencial tanto para vinhos leves e frescos como para poderosos brancos de guarda - e pela acidez vibrante, motivo pelo qual é muitas vezes introduzido em lotes de outras castas para lhes conferir longevidade.
O Arinto, certamente o nome mais comum que encontrará em rótulos e contrarrótulos de brancos portugueses, é também a casta-rainha da região de Lisboa, onde, com influências marítimas e, por vezes, alguma altitude, adquire características particularmente sedutoras - e não há subregião em Lisboa onde tenha adquirido mais prestígio do que Bucelas, onde se especula que a variedade tenha nascido.
Talvez seja pela proveniência que o Arinto de Bucelas (no mundo do vinho, estas duas palavras juntas caem que nem ginjas) traduza uma expressão única da casta: além da tradicional acidez e notas cítricas e de fruta de caroço, um distinto caráter mineral, próximo da pedra molhada, e vegetal, a lembrar espargos ou relva cortada.
É em torno deste perfil que as Caves Velhas produzem, há décadas, a referência Bucellas, expressão singela e acessível do Arinto de Bucelas que é uma excelente exemplo desta variação tão específica da casta, por um preço muito simpático para o vinho que oferece: cerca de €5 por um branco fresco, aromático e, sem ser chato ou descaracterizado, fácil de beber para quem aprecia o perfil.
É um perfil que qualquer apreciador de vinho poderá gostar? Não exatamente. É o único nesta gama de preços a oferecer um bom Arinto de Bucelas? Não necessariamente. Será o melhor Arinto no mercado? Com certeza que não. Mas o Bucellas cumpre um propósito a que muitos outros monocastas regionais deveriam ambicionar: oferecer uma opção acessível e de qualidade que sirva de porta de entrada para um mundo vínico diferente. E nesse sentido, é um êxito sem reservas.
"Um vinho para o fim de semana" é uma rubrica semanal em que lhe sugerimos, todos os sábados, uma referência para provar ao longo do fim de semana - uma rubrica a cargo do jornalista da SÁBADO Pedro Henrique Miranda. Pode ver as sugestões anteriores aqui: