Continua a ser "uma das mais conhecidas marcas de Portugal", diz Bento Amaral, especialista em vinho do Porto, professor do curso de Enologia da Universidade Católica do Porto e candidato a Master of Wine, uma das mais elevadas graduações em conhecimento vinho do mundo - um produto "com um prestígio enorme, lá fora que muitos de nós ainda não percebem".
Mas se a sua reputação lá fora permanece forte mediante a competição de vinhos como o Marsala italiano ou o Jerez espanhol, cá dentro o Porto continua a ser um vinho de ocasião - "o vinho dos avós, do Natal e da Páscoa", como diz Paulo Russell-Pinto, porta-voz do IVDP, o Instituto de Vinhos do Douro e Porto - não obstante, nos últimos anos, a sua qualidade e versatilidade terem aumentado a olhos vistos.
Bento Amaral vai mais longe: "À proporção do que cada um deveria saber sobre vinho do Porto, o português médio tem menos conhecimento do que o inglês médio" - uma situação que se deve, em não pequena parte, à complicada teia de nomenclaturas que obscura ainda mais o que está dentro da garrafa. Reunimos, então, algumas das principais categorias para facilitar a pesquisa pelo seu próximo Porto.
Porto Branco
Ainda que a sua leveza e afinidade com a coquetelaria o coloque na vanguarda do rejuvenescimento do vinho do Porto, o Porto branco abrange um vasto leque de estilos entre o seco e o doce. É mais consumido como vinho simples e refrescante, mas a introdução de novas categorias para os brancos de idade encaminha-o cada vez mais para um lugar de prestígio. Funciona melhor como aperitivo, embora também possa acompanhar pratos mais robustos de peixe.
Branco Seco
Exemplo digno de um branco simples e direto, o Extra Dry é a categoria mais seca (com menos açúcar) entre os Portos, provando que estes vinhos não têm de se limitar à doçura. Neste, da Barros, destacam-se as notas de citrinos e fruta branca jovem, ideal para desfrutar num dia quente, sobre o gelo.
Lágrima
A categoria Lágrima é assim chamada por ser fermentada das lágrimas de uvas maduras, preservando muito do açúcar natural da fruta - o mais doce entre os Portos brancos. Muito diferente dos secos, denota aromas mais complexos e concentrados de frutos de caroço e secos, figos e marmelos, como demonstra este, uma parceria entre Mateus Nicolau de Almeida e a sua mulher, Teresa Ameztoy.
Branco de Idade
A introdução pelo IVDP - Instituto dos Vinhos do Douro e Porto de novas categorias de idade prestigiou também os brancos, que passaram a poder ser chamados de "Very Old" a partir dos 50 anos de estágio. A distinção expande os limites a que os brancos podem ambicionar, como se verifica pelo recentemente lançado Dalva, que combina tons torrados da barrica com a fruta cristalizada das décadas de evolução.
Porto Ruby
Com estes portos tintos, o objetivo é preservar a pureza e aromas da fruta. Com pouca ou nenhuma madeira no estágio, são habitualmente engarrafados jovens, para fazerem a maior parte da evolução na garrafa, embora saiam geralmente prontos a beber. É raro encontrar uma colheita muito antiga, mas os melhores prometem evoluir por vários anos. Costumam acompanhar sobremesas de frutos vermelhos e chocolate, mas também harmonizam com queijos amargos, tons de menta e bifes com molhos mais intensos.
Ruby Reserva
O mais distanciado da categoria, o Ruby Reserva é proveniente de colheitas de vários anos e passa uma média de anos superior em barrica (cinco, no caso deste Special Reserve da Cockburn's), que acrescenta complexidade e estrutura ao caráter jovial do Ruby - um bom meio termo, e uma excelente relação preço-qualidade numa gama superior aos Ruby convencionais.
Late-Bottled Vintage (LBV)
Em segundo lugar na hierarquia dos Ruby, os LBV, ou Late-Bottled Vintage, são assim chamados por passarem mais tempo em estágio, chegando ao mercado com mais idade. Ainda que não tão exuberantes quanto os Vintages, espere qualidade superior de vinhos com este nome, como comprova este exemplar da Menin, pleno de frutos do bosque, especiarias e notas herbais.
Vintage
Para muitos o suprassumo do vinho do Porto, os Vintages expressam a textura e os aromas da fruta com a maior nobreza entre os Ruby. Vinificados nos melhores anos de colheita (declarados como "anos Vintage" pela casa), são engarrafados após um máximo de três anos, mas habitualmente muito menos. Vale a pena estar atento às colheitas em que a generaliade dos produtores declara, e a Confraria do Vinho do Porto consagra, o ano como "Vintage clássico" - mais recentemente, 2011, 2016 e 2017 - mas já há Vintages no mercado tão recentes quanto 2021, como este, da Maynard’s, que já angariou prémios em competição.
Porto Tawny
É a mais comum das categorias de Porto. Se as melhores uvas são reservadas aos Ruby especiais, os (melhores) Tawny são repousados durante longos anos em barricas de madeira, desenvolvendo sedutores aromas secundários e terciários como especiarias, frutos secos e mel, fazendo dele um vinho de sobremesa por natureza. Fora os Colheita, são depois engarrafados através de uma mistura autoral de barricas de diferentes anos, a idade média das quais surge no rótulo, desde os 10 anos até aos Very Very Old, com mais de 80.
Colheita
Os Colheita provêm de uvas de uma só vindima, e são os únicos Tawny a ser datados. Passam um mínimo de sete anos em barricamas, na prática, podem ficar muito mais, dependendo do ano da colheita e do engarrafamento, sempre impresso no contrarrótulo. Como os Tawny de idade, será tanto mais caro quanto mais antigo for, mas a diversidade de anos permite escolhas amplas. Este, um jovem de 12 anos da Real Companhia Velha, poderá ser um bom ponto de partida.
Tawny de Idade
O Tawny 20 Anos da Quinta do Vallado é um dos mais fáceis de encontrar em restaurantes, servido como vinho de sobremesa, e percebe-se porquê. Para muitos, há um ponto a partir do qual o envelhecimento extra não vale o custo acrescentado, e o 20 anos mostra evolução notória sem comprometer demasiado o preço final: é provável que note mais diferença deste para um 10 anos do que para um 30 anos.
Very Very Old
Em 2022, a categorização do vinho do Porto atingiu novos picos. Se, até então, um Tawny de mais de 80 anos só podia ser rotulado como tendo 40, hoje tem o direito de ser chamado de Very Very Old - um título que faz justiça à sua senioridade. Destes vinhos, não espere menos do que o melhor dos melhores, uma experiência sensorial ímpar legada por gerações passadas que se vai refletir, naturalmente, no seu preço, como se pode ver por este Taylor's.
Outros
As expressões do vinho do Porto não se esgotam nas restantes categorias, nem em tantas outras com que poderíamos encher este artigo. Alguns setores da indústria continuam a ser brindados pela inovação, reimaginando uma bebida de vários séculos para as gerações vindouras; outros, resgatando tradições com menor adesão nos nossos tempos, ajudam a enriquecer a cultura e a história de uma das bebidas portuguesas com maior projeção internacional. Fique com alguns exemplos.
Porto Rosé
Inventado em 2008, o Porto rosé tem sido uma das principais apostas no rejuvenescimento da bebida. O perfil leve, fresco e aromático torna-o ideal para beber refrigerado, com pedras de gelo ou em cocktail. São semelhantes entre si, exalando exuberantes notas de frutos vermelhos, pelo que deixamos a referência pioneira do rosé fortificado, da Croft.
Crusted
Relativamente incomum, pode ser encarado como um Ruby extra intenso. O facto de não ser filtrado confere-lhe corpo e cor adicional, e leva à criação de um sedimento, ou crosta, no fundo da garrafa, de onde deriva o seu nome. Exploradora de variedades obscuras de Porto, a Niepoort é a casa indicada para encontrar estas raridades.
Poças Quinado
Hoje uma categoria de nicho, o Quinado tornou-se popular entre os portugueses emigrados nas antigas colónias pelas propriedades terapêuticas da substância quinina, um pó branco e amargo com que era aditivado para combater a malária, e que acrescenta a este vinho distintos aromas químicos e farmacêuticos (no melhor dos sentidos). A adição de ervas aromáticas, cuja receita varia de casa para casa, faz desta uma categoria muito cobiçada por admiradores de Porto. Nem todos são tão caros quanto este exemplar distinto da Poças.