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Um vinho para o fim de semana: Vinhos Verdes como não os conhece

Mantendo um preço simpático, o Capela da Tapada é um branco que foge ao clichê da região, apostando em idade, estágio e complexidade na boca.

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Edição de 5 a 11 de agosto
Um vinho para o fim de semana: Vinhos Verdes como não os conhece
Pedro Henrique Miranda 15 de março de 2025 às 10:00
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Os Vinhos Verdes - uma região vitivinícola, e não um tipo de vinho distinto de brancos ou tintos, como se costuma dizer coloquialmente - são uma das mais bem estabelecidas marcas portuguesas a nível mundial, e por bom motivo. O seu perfil mais conhecido, de tintos e principalmente de brancos é bandeira de qualidade instantaneamente reconhecível, por um preço, geralmente, bastante apetecível.

Região-berço do Alvarinho, uma distinção que partilha com os vizinhos espanhóis da D.O. Rías Baixas (com a qual tem, compreensivelmente, bastantes semelhanças), os Vinhos Verdes produzem brancos, na sua esmagadora maioria, bastante semelhantes: jovens, efervescentes, frescos e plenos da fruta tropical que geralmente associamos ao Alvarinho, com ocasionais toques mais verdes do seu frequente companheiro, o Loureiro. 

Não é só isso o que a região tem a oferecer, no entanto. "Não acreditamos em vinhos jovens", diz o viticultor-enólogo Renato Neves, da Casa da Tapada, uma das poucas da região que o dirá nesses termos. Inaugurada em 2018 pelo grupo Serrano Mira (da Herdade das Servas, no Alentejo), o seu topo de gama até recentemente era o Casa da Tapada Superior, um excelente branco de 2020 de Alvarinho e Loureiro de idade incomum e vendido por pouco menos de €10 - um excelente valor por garrafa.

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A mudança de identidade visual que acompanhou o alargamento das suas referências trouxe algumas novidades - um Grande Reserva cheio de madeira e um elegante espumante Brut Nature, ambos de Alvarinho e Loureiro -, mas nenhuma tão interessante quanto o seu novo entrada de gama, o Capela da Tapada Loureiro Branco Seco, que ostenta a mais simpática etiqueta do produtor: €8,90.

Proveniente de uvas de vários produtores dos Vinhos Verdes, o Capela da Tapada não é datado, porque resulta de duas colheitas combinadas da casta Loureiro, de 2021 e 2022, que permaneceram pelo menos um ano em estágio sobre as borras finas antes do loteamento, só vendo cubas de inox no processo. O resultado é um vinho bastante evoluído mas sem a marca da madeira, cujas notas verdes e cítricas apresentam-se já algo apagadas pela redução e algum sulfuroso.

O propósito é, em muitos sentidos, o oposto do que se conhece melhor dos Vinhos Verdes: um vinho que conquista não pelo nariz, mas pelo peso de boca pronunciado, e cuja complexidade aromática não é ofuscada pelo carvalho. Para os mais destemidos, pode ser bebido sozinho, mas diríamos que, para lá das saladas e marisco, acompanha confortavelmente mesmo os peixes mais gordos e carnes brancas.

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