Em muitos países, o equivalente a €10 não lhe compra grande coisa em matéria de vinho - à exceção de Espanha, experimente gastar esse valor em qualquer outro país da Europa par comprová-lo. Numa visita recente aos Estados Unidos, em conversa com um vendedor de vinhos, foi esse o primeiro tópico a vir à baila quando se falou de Portugal: "Os vinhos são tão baratos!"
Embora o comentário não caia da melhor maneira diante de um país que cada vez mais se orgulha da sua produção de excelência, não deixa de ser verdade do Portugal que continua a ser também dos bag-in-box e das garrafas de €2, não raras vezes vendidas em restaurantes por várias vezes o seu preço real. Há, no entanto, algo a ser dito em relação à qualidade: há vários vinhos decentes a serem encontrados na marca dos €4, mas muito poucos tidos como convencionalmente bons (leia-se formalmente bem feitos) por menos de €6 ou €7.
Mas se é esta a linha de demarcação, o que é que €10 de vinho lhe compram em Portugal? Podem valer uma referência de gama média ou elevada (com mais idade e estágio em barrica) e, por vezes, duvidosa quanto à qualidade das suas uvas, madeira ou vinificação. Ou podem valer um vinho de perfil de entrada de gama (leve, sem madeira e concebido para consumo rápido) que, nesta marca de preço, dificilmente ficará abaixo do impecável se vier de uma marca respeitável, mesmo que não seja exatamente a sua praia em termos de castas ou estilo.
Dê €10 por um vinho de entrada de gama e em princípio não terá muito por onde errar. Isto vale para tintos sem madeira, que estão a ter um bom momento no nosso país, mas também para os brancos frescos, frutados e aromáticos tão procurados nesta altura do ano, quando o tempo aquece. Destes, regiões como o Douro, Lisboa ou os Vinhos Verdes têm com fartura, mas o Alentejo, em tempos maldito pela qualidade seus brancos, tem também tido cada vez mais produção - e com cada vez maior qualidade.
É o caso desta mais recente colheita (2024) do Rocim Branco, que não é a referência branca mais barata da Herdade do Rocim mas que ainda assim se posiciona como um vinho sem rodeios: Antão Vaz, Arinto e Viosinho vinificados em inox, jovens e feitos para assim serem bebidos. A linária, planta nativa da região de Cuba, impressa no seu rótulo é algo indicativa do seu aroma floral, misturado com algumas notas cítricas no nariz.
Em boca, sentirá para onde foi o dinheiro extra: um vinho fino e delicado mas não desprovido de personalidade, que revela um caráter predominantemente mineral com nuances vegetais à mistura, tudo envolvido de forma redonda e harmoniosa e com um final persistente. Com acidez relativamente baixa para um branco, é ideal para quem não é fã dos perfis mais cortantes dos bons brancos do norte, e bebe-se bem sozinho num dia quente de verão como os que temos tido, podendo também acompanhar saladas ou pratos leves de peixe.
"Um vinho para o fim de semana" é uma rubrica semanal em que lhe sugerimos, todos os sábados, uma referência para provar ao longo do fim de semana - uma rubrica a cargo do jornalista da SÁBADO Pedro Henrique Miranda.