Sábado – Pense por si

Um vinho para o fim de semana: Adegamãe e um Arinto de excelência

O Arinto da Adegamãe é um daqueles vinhos que fica na memória - não só pela qualidade, mas também pela diferença face à concorrência.

Capa da Sábado Edição 5 a 11 de agosto
Leia a revista
Em versão ePaper
Ler agora
Edição de 5 a 11 de agosto
Um vinho para o fim de semana: Adegamãe e um Arinto de excelência
Pedro Henrique Miranda 10 de maio de 2025 às 10:00

Frequentemente citada como a melhor uva branca portuguesa, não é à toa que o Arinto é uma das castas mais ubíquas dos nossos vinhos. Feche os olhos e aponte para uma qualquer garrafa da montra dos brancos, e o mais provável é que seja feita, pelo menos em parte, desta uva  - que se crê ter nascido em Lisboa, mas que, por obra da natureza, do viticultor e do seu próprio mérito como uva vinhateira, conquistou o País inteiro.

É por isso que costuma ser também a primeira paragem do enófilo aprendiz na descoberta dos brancos portugueses, o que é passível de gerar alguma confusão. A que sabe, afinal, o Arinto? A muita coisa, na verdade: a sua plasticidade é uma das características mais prezadas por enólogos, sendo capaz de produzir tudo desde vinhos leves e aromáticos de consumo rápido até brancos de guarda com madeira generosa - para não falar dos nossos elegantes espumantes, dos quais faz frequentemente parte.

Combine-se essa versatilidade com a dispersão geográfica dos terroirs que habita e as combinações são praticamente intermináveis, o que torna o Arinto uma fonte infindável de surpresa e redescoberta. Mesmo em Lisboa, berço do célebre Arinto de Bucelas, há variação suficiente para manter ocupados até especialistas. Já falámos de um deles, o Bucellas, emblemático da terra que o viu nascer e que pode servir de porta de entrada para descobrir esta casta tão particular e, ao mesmo tempo, tão universal. 

Na mesma Lisboa (que, em termos vitivinícolas, estende-se para lá de Leiria) reside, no entanto, um Arinto de perfil completamente distinto. Ao contrário de Bucelas, mais resguardado do mar e de influências predominantemente continentais e fluviais, as vinhas da Adegamãe, em Torres Vedras, expõem-se à brisa atlântica, dando origem a vinhos de frescura, mineralidade e salinidade vibrantes. São donos de um vasto número de referências, com especial destaque para monocastas, e acabam de lançar uma gama de entrada, a Dory, especialmente adulada pela qualidade engarrafada na faixa dos €5, mas vale a pena pagar um pouco mais por um vinho verdadeiramente especial.

Por €10, o Adegamãe Arinto é esse vinho - não por acaso, foi o mais barato a integrar a nossa lista de vinhos de excelência do ano passado. É um daqueles vinhos que fica na memória, não só pela inimputável qualidade, mas também pela diferença: um branco elegante, mas marcante, exuberantemente aromático e com agradável complexidade em boca, com uma acidez cortante que trespassa a robustez que os anos lhe deram - um Arinto de 2020 que envelheceu lindamente, com uma idade incomum para brancos, e ainda mais para brancos que não passaram pela madeira.

Quanto a nós, não temos dúvidas: permanece um dos melhores valores por garrafa com que nos cruzámos, com uma versatilidade que é transposta para a mesa: bebe-se bem sozinho (acompanhe com água), bem fresco ou com uns minutos fora do frigorífico, e a acompanhar tudo, de massas e saladas a carnes brancas condimentadas.

"Um vinho para o fim de semana" é uma rubrica semanal em que lhe sugerimos, todos os sábados, uma referência para provar ao longo do fim de semana - uma rubrica a cargo do jornalista da SÁBADO Pedro Henrique Miranda.

Artigos Relacionados
A Newsletter Na Revista no seu e-mail
Conheça em primeira mão os destaques da revista que irá sair em banca. (Enviada semanalmente)