Estudo da Católica para uma consultora de finanças pessoais mostra que 61% das pessoas diz não ter dinheiro para investir ou vontade de aplicar as poupanças. A esmagadora maioria dos que investem recorre a produtos sem risco - e sem retorno real.
Imagine uma sucessão de matrioscas que, no final, termina na
boneca mais pequenina – é esse o tamanho do grupo de pessoas que, em Portugal,
investe o seu dinheiro em ativos além do imobiliário. Mais de 60% dos
inquiridos num estudo divulgado hoje, realizado pela Universidade Católica
Portuguesa para a consultora Doutor Finanças, diz que não investe por não ter
dinheiro suficiente ou por preferir poupar sem investir. O estudo confirma ainda
o conservadorismo elevado do aforrador português e a sua dependência grande dos
bancos para informação e conselhos sobre como e onde investir.
Portugueses preferem poupar a investir por falta de dinheiro ou vontade
“O português é o investidor que entra para não perder, não
entra para ganhar”, resume Sérgio Cardoso, responsável da Doutor Finanças, uma
consultora de finanças pessoais. Na amostra tratada pelo Centro de Estudos Aplicados
da Católica só 39% das pessoas dizem investir em ativos mobiliários e, mesmo
entre estas, a maior parte investe sem qualquer risco – e sem diversificar
entre classes diferentes de ativos. “Entre os que investem, cerca de 70% dizem
que sabem o que é diversificar, mas só 40% dizem que aplicam essa regra – e os
que acham que diversificam estão a falar de investir entre depósitos a prazo,
certificados de aforro e PPR de capital garantido [todos sem risco e idênticos]”,
acrescenta Sérgio Cardoso.
O conservadorismo enorme resiste à multiplicação de possibilidades
de investimento e de formas de fazê-lo. Os depósitos a prazo são a opção mais
escolhida (49%) pelos inquiridos que dizem investir. A seguir vêm os PPR (38%)
e os Certificados de Aforro ou de Tesouro. Para muitos aforradores, estas
opções significaram uma erosão do seu poder de compra, já que não compensam o
ritmo da inflação. A taxa média bruta de novos depósitos em Agosto, por
exemplo, foi inferior a 1,4%. Nos PPR, cerca de 80% do dinheiro está na modalidade
sem risco, cujos resultados são maus: o analista David Almas contabilizou que
cerca de três quartos dos PPR na forma de fundo de investimento ou fundo de
pensões renderam menos que a inflação nos últimos cinco, oito e 10 anos.
A falta de confiança convive com sinais de insegurança na hora
de escolher onde pôr o dinheiro – e com experiências passadas negativas ou
interpretadas dessa forma. “É melhor investir de forma conservadora do que
investir em produtos que não se conhece”, nota Sérgio Cardoso. No barómetro,
44% das pessoas responderam que já perderam dinheiro em aplicações, o que sinaliza
fases, temporárias, de fratura no conservadorismo de algumas pessoas. “Quem
investe sem saber e perde dinheiro não volta a investir”, acrescenta.
O barómetro não distingue em que aplicações perderam dinheiro.
Sérgio Cardoso lembra que tempo e paciência são dois dos pilares do
investimento e que perdas momentâneas em aplicações em fundos de ações bem
diversificados dão lugar, a prazo, a uma tendência de ganho – a chave é estar “disponível
para o longo prazo, para ver o produto oscilar”. Para quem não está, a escolha
pelo risco pode ditar más decisões que agravam a perda. “É como um sapato: se
compramos um que não assenta bem no pé, ao primeiro sinal de dor tiramos porque
está a magoar. Se estamos a meio de um casamento vai ser uma chatice – [nas
ações] se estiver a perder e vender, não dou oportunidade a que recupere”
explica.
Neste ambiente de falta de confiança e conhecimento – 61%
dos inquiridos diz conhecer o “básico” (37%) ou não ter conhecimento (14%) – a
banca continua a ter um papel importante como ponto de contacto e
aconselhamento. “Os resultados mostram que os bancos são a fonte de informação
predominante para investidores [52%]”, refere o estudo. A banca comercial tem
frequentemente metas de colocação dos seus produtos financeiros que, estando de
acordo com o perfil tendencialmente conservador dos clientes, podem não ser os
mais favoráveis.
Más notícias para a reforma (mas há a casa)
A consequência principal da fraca cultura de investimento em
ativos mobiliários é o impacto negativo na preparação da reforma, sublinha
Sérgio Cardoso. “Vai trazer muitos dissabores no futuro a estas famílias”,
afirma. O único fator mitigador deste défice é o investimento de maioria das
famílias portuguesas em imobiliário, um ativo que não está considerado no
barómetro (que só mede a cultura de aplicações em ativos mobiliários). O imobiliário acaba por ser um ativo com risco no curto prazo, mas com um registo de ganhos no longo prazo, que, ao contrário das intangíveis ações, atrai o aforrador português.
O imobiliário explica uma parte indeterminada dos 31% de inquiridos que dizem não
investir por não terem dinheiro para tal (se já pagarem uma prestação mensal),
tal como as percentagens tendencialmente baixas de investimento em ativos
mobiliários (47% dos inquiridos dizem aplicar menos de 10% do rendimento mensal
em investimento). Além do desvio da poupança para casas usadas como ativo gerador de rendimento há a casa própria.
“A primeira casa já é um investimento e deve ser tratado
como tal”, concorda Sérgio Cardoso. O investimento terá um retorno tanto maior
quanto mais cedo as pessoas amortizarem o crédito – uma vez que poupam muito em
juros e nos seguros – e constitui um ativo a ter em conta no planeamento da
reforma.
O responsável da Doutor Finanças nota que, para muitas pessoas
que resistem a vender a casa quando são mais velhas – por razões emocionais ou
porque querem deixar a casa aos filhos – este é um ativo muito menos líquido do
que um depósito ou uma aplicação noutras classes de ativos mobiliários. Não
deixa, contudo, de ser um investimento ativável na reforma – em particular para
as gerações que se reformarão nas próximas décadas e terão pensões mais baixas.
O inquérito foi realizado pelo Centro de Estudos Aplicados (CEA) entre os dias 31 de julho e 28 de agosto, através de chamadas aleatórias para uma lista de números gerada de forma aleatória. A amostra é de 701 respostas e a taxa de respostas foi de 16%. A margem de erro máxima indicada pelo CEA é de 4%.
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