Um administrador do estado do Nevada não aceitou o pedido de Rupert Murdoch, dono da Fox News, para que Lachlan se encarregue do império mediático conservador após a morte do pai.
Um administrador do estado do Nevada, nos Estados Unidos, decidiu impedir Rupert Murdoch de alterar o futuro controlo do fundo da sua família para favorecer o filho mais velho, Lachlan Murdoch. O objetivo passava por garantir a orientação editorial da Fox News após a morte do seu atual chairman, segundo um documento judicial obtido pelo The New York Times.
Edmund J. Gorman Jr. concluiu que Rupert e Lachlan Murdoch agiram de "má-fé" ao tentar alterar o fundo irrevogável, que divide o controlo da News Corp. de forma igual entre os quatro filhos mais velhos (Lachlan, James, Elisabeth e Prudence). O comissário considerou o plano uma "charada cuidadosamente elaborada" para "consolidar permanentemente os papéis executivos de Lachlan Murdoch" dentro do império, "independentemente dos impactos que tal controlo teria sobre as empresas" detidas pela família.
Rupert Murdoch pretendia aumentar o controlo de Lachlan e tirar o poder de voto aos outros três filhos. Argumentou que essa medida seria do interesse financeiro de todos os seus beneficiários por considerar que é essencial manter a orientação política dos seus canais. Os filhos são politicamente moderados.
O advogado da família Murdoch, Adam Streisand, já reagiu e afirmou que tanto Rupert como Lachlan ficaram dececionados com a decisão e pretendem recorrer. Já os restantes filhos emitiram uma declaração conjunta em que referem: "Acolhemos com satisfação a decisão do Comissário Gorman e esperamos que possamos ultrapassar este litígio e concentrar-nos no fortalecimento e na reconstrução dos relacionamentos entre todos os membros da família".
Rupert Murdoch não está a tentar diminuir as participações financeiras dos seus outros filhos na empresa, mas sim a tentar decidir sobre o império dos meios de comunicação sociais conversadores mais poderosos do mundo, que inclui a Fox News, o The Wall Street Journal, o The New York Post e alguns dos principais jornais e canais de televisão da Austrália e do Reino Unido.
Rupert Murdoch tem atualmente 93 anos e pretende que os seus filhos assumam o grupo, assim como ele e as suas irmãs o fizeram depois de o seu pai morrer. Porém, pretende fazer o máximo para garantir que o seu império se vai manter conservador. Desde 2019 que se tornou claro que Lachlan seria o eleito para suceder ao pai, mas a estrutura do fundo da família não está a facilitar essa missão.
A decisão do administrador estatal do Nevada é importante para o caso, mas não o decide. Está sujeita a aprovação por um juiz distrital, cuja decisão por sua vez pode ser alvo de contestação nos tribunais.
A luta pela sucessão do grupo deixou ainda mais claras as disputas que assombram a família desde 2010, quando funcionários do agora extinto jornal britânico News of the World se envolveram num escândalo de escutas telefónicas, suborno policial e tráfico de influências. Elisabeth Murdoch tentou que o pai demitisse James, que supervisionava as operações britânicas.
A atual manobra legal confirmou a preferência de Rupert Murdoch pelo seu filho mais velho e arrastou os restantes para um tribunal no Nevada, de forma a tentar manter a aparência de algum controlo sobre um negócio familiar que se tornou inseparável da própria família. James e Elisabeth são conhecidos por terem visões menos conservadoras do que o seu pai e irmão e se o magnata não conseguir garantir que é Lachlan que vai assumir o seu lugar, existe o risco de a Fox News deixar de ser um canal ligado à direita conservadora depois da morte de Rupert Murdoch.
Os documentos revelam que em abril de 2023 os filhos começaram a discutir quais seriam as estratégias de relações públicas que o grupo deveria assumir depois do dia da morte do seu pai. Segundo as transcrições do comissário as discussões podiam tipo acontecido num dos episódios de Succession, "em que o patriarca da família morre, deixando a sua família e os negócios em caos".
Um dos factos apresentados pelos advogados do dono da Fox News para tentar provar a existência de uma conspiração contra o seu cliente foi uma reunião, ocorrida em setembro de 2023, no Claridge's Hotel em Londres que juntou James, Elisabeth e Prudence. No entanto, o comissário decidiu que a existência de uma reunião não podia comprovar qualquer "conspiração" contra Lachlan ou Rupert.
Em 2006 Rupert Murdoch criou o Murdoch Family Trust, através do qual os negócios deverão ser geridos depois da sua morte. Quando esta ocorrer, as ações com direito a voto serão distribuídas igualmente pelos seus quatro filhos mais velhos fruto dos seus dois primeiros casamentos. Está previsto que o acordo inicial seja vinculativo, uma vez que foi negociado com a mãe de Lachlan, Elisabeth e James, que estava preocupada em garantir o futuro dos seus filhos, uma vez que nesse momento já se encontrava casado com Wendi Deng, com quem voltou a ter dois filhos.
Grace e Chloe, filhos do terceiro casamento de Rupert Murdoch, acabaram por receber uma participação financeira no império igual à dos seus irmãos. No entanto, não têm qualquer poder de voto.
A intenção de alterar o fundo, criando o "Projeto Harmonia Familiar", foi apresentada numa reunião no final de 2023. Nessa manhã Lachlan enviou uma mensagem para a irmã Elisabeth onde era possível ler: "Hoje é sobre os desejos do pai e a confirmação de todo o nosso apoio aos seus desejos. Não deve ser difícil nem controverso. Amo-te, Lachlan".
Já na reunião Rupert leu uma declaração em que afirmava: "Amo cada um dos meus filhos, e o meu apoio ao Lachlan não pretende sugerir o contrário. Mas as empresas precisam de um líder designado".
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