A produção industrial da China registou nos dois primeiros meses do ano o maior declínio em três décadas, devido às medidas para travar a propagação do surto do novo coronavírus.
A produção industrial da China registou nos dois primeiros meses do ano o maior declínio em três décadas, devido às medidas para travar a propagação do surto do novo coronavírus, foi hoje anunciado.
De acordo com o Gabinete de Estatísticas chinês (GNE), o indicador registou uma contração de 13,5%, um número muito abaixo das previsões dos analistas, que apontavam para um crescimento de cerca de 1,5%, durante o mesmo período, e que representa a maior queda desde o início dos anos 1990, quando começou a haver registos.
"É um número muito inferior ao previsto e aponta para uma recessão mais profunda do que durante a crise financeira internacional de 2008", apontou a consultora britânica Capital Economics, num relatório.
Entre janeiro e fevereiro passados, a taxa de desemprego subiu para 6,2%, enquanto as vendas a retalho e o investimento em ativos fixos caíram 20,5% e 24,5%, respetivamente.
Os números estão muito abaixo das expectativas dos analistas e muitos observadores expressaram surpresa perante a decisão do Governo chinês de expor números tão devastadores.
"Assumimos que o Gabinete de Estatísticas chinês estaria relutante em revelar integralmente a quebra na atividade económica, pois isto torna as metas oficiais de crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] impossíveis", explicou a Capital Economics.
Nos dois primeiros meses do ano, o setor dos serviços contraiu 13%.
Tendo em conta a soma dos serviços e da produção industrial, os dados sugerem que o crescimento do PIB chinês se fixou em menos 13%, entre janeiro e fevereiro.
"O choque real pode ser muito maior do que sugerem os números profundamente negativos registados entre janeiro e fevereiro, porque as medidas de prevenção começaram apenas a partir de 23 de janeiro", disse o economista-chefe do grupo de serviços financeiros japonês Nomura, Ting Lu.
As autoridades de Pequim têm relativizado os dados, apontando que o impacto é temporário, mas os números terão um efeito profundamente negativo nas perspetivas económicas do país para este ano.
"O desenvolvimento económico nos primeiros dois meses foi afetado pelo surto de Covid-19", disse um especialista do GNE. "No entanto, numa perspetiva abrangente, o impacto da doença viral é de curto prazo, externa e gerível", Mao Shengyong.
O surto, que começou na cidade de Wuhan, no centro da China, em dezembro passado, levou a um bloqueio generalizado das cidades em todo o país. O movimento de trabalhadores migrantes que procuram regressar às cidades foi limitado, resultando num golpe para o desemprego urbano.
Analistas disseram esperar que a economia chinesa cresça menos de 3%, no primeiro trimestre de 2020, apesar da recuperação gradual da atividade económica em muitas cidades do país.
Depois de sofrer inicialmente com a incapacidade de produção, muitos economistas estão preocupados com a possibilidade de a China enfrentar agora uma queda na procura, à medida que o resto do mundo é atingido pelo surto.
O Banco Popular da China (banco central) adotou algumas medidas de política monetária para ajudar a estimular a economia, mas analistas consideraram que serão precisas medidas adicionais.
Outros bancos centrais, incluindo a Reserva Federal norte-americana, lançaram também enormes pacotes de estímulo para amortecer o abrandamento económico.
O novo coronavírus responsável pela pandemia de Covid-19 já provocou mais de 6.500 mortos em todo o mundo.
O número de infetados ronda as 170 mil pessoas, com casos registados em pelo menos 148 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 245 casos confirmados. Do total de infetados, mais de 77 mil recuperaram.
JPI // EJ
Lusa/Fim
Coronavírus: Produção Industrial da China regista maior queda desde que há registo
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
"O afundamento deles não começou no Canal; começou quando deixaram as suas casas. Talvez até tenha começado no dia em que se lhes meteu na cabeça a ideia de que tudo seria melhor noutro lugar, quando começaram a querer supermercados e abonos de família".