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Banif: Só se podia vender ou liquidar, diz Centeno

"Se houvesse a possibilidade de criar um banco de resolução no fim de semana de 19 e 20 de dezembro a solução teria sido outra", admitiu Centeno

O Governo de António Costa procurou junto das instâncias europeias a aprovação para a criação de um banco de transição no âmbito da resolução do Banif, mas o Mecanismo Único de Supervisão (MUS) não o permitiu, revelou o ministro das Finanças, durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao Banif. "A decisão do MUS foi não autorizar a licença a um banco de transição", avançou Mário Centeno.

Esta possibilidade ficou em cima da mesa já depois de a Direção Geral da Concorrência (DG Comp) da Comissão Europeia ter chumbado a hipótese de integração do Banif na Caixa Geral de Depósitos (CGD), que era a solução preferida do Governo de António Costa. "Se houvesse a possibilidade de criar um banco de resolução no fim de semana de 19 e 20 de dezembro a solução teria sido outra", admitiu Centeno. "Naquele fim de semana só havia duas alternativas. A resolução e a venda do negócio ou a liquidação", sublinhou.

Paralelamente, o governante disse que a DG Comp, no final de novembro, decidiu que o prazo para a receção de propostas de interessados no âmbito da venda voluntária do Banif tinha que ser antecipado de 18 de dezembro para 15 de dezembro e com a obrigatoriedade de as propostas serem vinculativas. "A 15 de dezembro não havia nenhuma proposta e começou a ficar claro que a venda voluntária ia ser muito difícil. O Governo negociou com Bruxelas a possibilidade de receber propostas ainda no âmbito da venda voluntária até 18 de dezembro", frisou.

De resto, a DG Comp tinha "a exigência que o comprador tivesse capacidade para absorver a atividade bancária do Banif para que esta se tornasse viável", disse Centeno. E explicou que "uma hipótese diferente implicava uma redução de balcões e de trabalhadores muito mais significativa".

Situação arrastada. Mário Centeno considera que houve "passividade" das "autoridades portuguesas e das instituições internacionais" em torno do Banif, o que provocou a "deterioração do valor dos activos do banco". "Esta passividade das autoridades portuguesas e das instituições internacionais durante um período muito prolongado esteve na génese da deterioração do valor dos activos do banco e da acumulação de imparidades que culminaram na resolução do banco com custos elevados para os contribuintes", vincou o ministro do executivo PS na comissão parlamentar de inquérito sobre o Banif. Logo no arranque da sua intervenção, o titular da pasta das Finanças declarou que a situação do Banif "foi sendo arrastada ao longo dos últimos três anos pelos diferentes intervenientes com responsabilidades políticas e de supervisão". "Esta actuação foi acompanhada com especial indulgência pelas autoridades europeias", disse também, acusando as mesmas de "misturarem notas de contentamento" em público pelo que diziam ser o "bom curso do ajustamento" económico com "cartas de recomendações veladas, em privado".

  1. Chumbos. Mário Centeno revelou que houve vários planos de reestruturação do Banif que foram chumbados pela Comissão Europeia, e não apenas um com várias mudanças, como "eufemisticamente" havia declarado a antiga ministra Maria Luís Albuquerque. "O Banif foi objecto de uma recapitalização pública em Janeiro de 2013. Após essa data, foram, sem sucesso, submetidos à Comissão Europeia, vários planos de reestruturação ou, eufemisticamente, várias versões", começou por declarar Mário Centeno na sua intervenção inicial na comissão parlamentar de inquérito sobre o Banif. Depois, em resposta ao deputado do PS Carlos Pereira, Centeno pediu que a discussão não se focasse em "semântica". "Era bom que nos deixássemos de semânticas. Quando há uma versão alterada de um plano anterior, na verdade estamos a apresentar um plano de reestruturação novo e não foi com certeza por o outro ter sido aprovado", vincou o ministro.

Duração. Centeno começou a sua intervenção na comissão de inquérito por declarar que os trabalhos parlamentares sobre o banco já levam mais horas que as que o Governo teve para resolver o problema. "Já são quase mais horas no final da sessão de hoje que as que o Governo teve para resolver o problema do Banif", disse Mário Centeno no começo da sua audição, que arrancou cerca das 17h50.

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