É um vírus que pode resistir durante mais de três anos em carne congelada e que se propaga até através de camiões e carros. Tem potenciais efeitos "devastadores".
Foi confirmada há uma semana a presença do vírus da febre suína africana nas carcaças de dois javalis na Catalunha. O governo espanhol já enviou uma Unidade Militar de Emergência para evitar que o vírus seja transmitido aos porcos domésticos.
Não há cura para a doençaDR
1O que é a peste suína?
A Peste Suína Africana é uma doença causada por um vírus, um asfivírus, que afeta porcos e javalis e foi identificada pela primeira vez em África. É caracterizada por uma mortalidade muito elevada, daí a designação de peste, podendo originar a morte de 100% dos animais infetados", explica o bastonário da Ordem dos Veterinários.
2Há perigo para os humanos?
Este vírus não afeta os seres humanos.
3Como se pode identificar o vírus?
"No caso dos javalis, qualquer cadáver encontrado na natureza ou resultante de atropelamento deve ser considerado suspeito e notificado às autoridades, existindo um sistema de aviso rápido – ANIMAS – que permite a geolocalização dos cadáveres", refere o veterinário.
No caso dos porcos domésticos pode ocorrer um grande número de mortes súbitas, abortos, febre alta, aumento da frequência respiratória, apatia, vermelhidão cutânea (pontas das orelhas, patas e barriga) e diarreias com sangue.
4Por que é tão perigoso para os animais?
Em primeiro lugar, explica Pedro Fabrica, porque não existem vacinas ou tratamentos eficazes contra esta doença potencialmente letal. Em segundo, o vírus é muito resistente, podendo persistir em carne congelada, enchidos, calçado e rodados de veículos.
De acordo com os dados fornecidos pelo líder da Ordem dos Veterinários, pode persistir na carne dos animais até 180 dias se a carne for salgada, até 300 dias em carne seca e, em caso de carne congelada, o vírus pode manter-se ativo até mil dias depois da infeção. No caso do sangue pode manter-se vivo 15 semanas à temperatura ambiente, meses a 4º C e anos quando congelado, acrescenta ainda Fabrica.
Os cuidados do Governo espanhol em recolher as carcaças estão ligados com o facto de o vírus ser resistente à putrefação e autólise e pode sobreviver por muito tempo nos cadáveres de javalis. "Quanto mais baixa a temperatura maior a sua sobrevivência", lembra Fabrica. Estando neste momento no Inverno, torna-se ainda mais perigoso.
5O vírus só se transmite através de matéria orgânica?
Esse é outro dos problemas. Foi já detectado material genético do vírus no solo após a remoção de cadáveres infetados com o vírus. E até insetos e carraças podem transmitir este vírus a outros suínos.
As carraças do género “Ornithodoros” podem albergar o vírus infetante durante anos, explica o bastonário.
E o vírus pode ser transmitido por via indireta, nomeadamente ingestão de alimentos infetados, picadas de carraças infetadas, contacto com calçado e vestuário contaminado, bem como com veículos contaminados.
6Os impactos "devastadores"
"A Peste Suína Africana tem efeitos potencialmente devastadores nas unidades produtivas de suínos pelo seu impacto patogénico e efeitos disruptivos em todo o sector da suinicultura pelo condicionamento ao comércio de animais e dos produtos alimentares derivados dos suínos", explica o bastonário.
7Devem os produtores portugueses estar preocupados?
Apesar de estar longe de Portugal, existe risco deste vírus chegar às varas nacionais? "Sim, o risco é real", defende Fabrica. "Se observarmos a evolução da sua distribuição geográfica desde que entrou no espaço da União Europeia em 2014, pode ocorrer dispersão por continuidade territorial pela movimentação animal, nomeadamente pelos javalis ou porcos infetados ou pelo transporte de animais infetados ou de alimentos contaminados, sendo esta última hipótese a potencial causa para o seu surgimento em Espanha", sublinha.
Os movimentos de veículos via fronteiras terrestres entre Portugal e Espanha contribuem para risco elevado de entrada do vírus em Portugal.
8O Governo português devia estar a tomar medidas de prevenção?
Portugal dispõe de um plano de vigilância para detetar precocemente a entrada do vírus no País. Esse plano é gerido pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV). A DGAV também tem sob a sua responsabilidade a verificação da implementação de medidas de biossegurança pelos operadores pecuários, estabelecimentos de abate e indústria alimentar, medidas essas, que quando corretamente implementadas evitam a introdução do vírus.
Um terceiro pilar da prevenção de entrada da doença em território nacional é o controlo da população de javalis, a cargo do ICNF. Perante um risco aumentado de introdução da doença, "as medidas de controlo podem e devem ser ajustadas e intensificadas, nomeadamente aumentando e dirigindo os atos inspetivos", defende Pedro Fabrica.
9Como se pode combater esta peste? Apenas pela prevenção?
Portugal adquiriu experiência no combate a esta doença, nas décadas de 60 e 90.
Primeiro, dever ser feito um esforço acrescido para evitar a reintrodução da doença no território nacional. Se a reintrodução ocorrer, deve ser feito um esforço máximo para a sua contenção e erradicação.
Segundo, o controlo dos movimentos de suínos e de produtos alimentares derivados dos suínos com origem em Espanha ou em outros países com focos da doença devem ser objeto de particular atenção.
Terceiro, a biossegurança dos operadores pecuários, matadouros, fábricas de ração para animais e indústria alimentar deve ser reforçada.
Quarto, e não menos importante, a população de javalis deve ser eficazmente controlada.
Quinto, através da inativação do vírus da PSA pela luz solar direta, destruição a 56.º C durante 70 minutos ou a 60.º C durante 20 minutos, por desinfetantes aprovados pela DGAV para a eliminação do vírus da PSA após limpeza cuidadosa.
Peste suína mata vários javalis em Espanha. Devem os produtores portugueses estar preocupados?
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