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OMS volta a apelar à China que divulgue dados sobre a origem do vírus da Covid-19

Ainda se desconhece a origem do coronavírus, que se estima tenha matado cerca de sete milhões de pessoas, cinco anos após a deteção do primeiro caso na cidade chinesa de Wuhan.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou esta semana a pedir a Pequim que revelasse os dados sobre a origem do coronavírus, cinco anos após ter infetado as primeiras pessoas na cidade chinesa de Wuhan onde existia um laboratório dedicado ao estudo do vírus SARS. 

Laboratório Wuhan
Laboratório Wuhan Zhang Yuwei/AP

"Continuamos a pedir à China que partilhe dados para que possamos entender as origens da Covid-19. É uma obrigação científica e moral", diz a declaração da OMS, acrescentando que "sem transparência, partilha e cooperação entre países, o mundo não se consegue prevenir adequadamente e preparar para epidemias e pandemias futuras".

Inicialmente os cientistas suspeitavam que o vírus tinha sido transmitido de animais para seres humanos, e, em 2021, uma equipa da OMS viajou até Wuhan e confirmou parcialmente esta teoria, mas admitiu que era preciso mais investigação. No entanto, no ano passado, o diretor do FBI, Christopher Wray, disse que teria sido "muito provavelmente um acidente de laboratório" e uma "fuga" que levou à disseminação. Desde então, a China já veio desmentir, dizendo que a declaração não tinha "qualquer credibilidade".

Em resposta ao novo pedido da OMS, o governo chinês garantiu que partilhou informação sobre a covid "sem esconder nada". "Na questão da rastreabilidade da covid-19, a China partilhou mais dados e investigação e fez a maior contribuição para a investigação global da rastreabilidade", afirmou a porta voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning.

O que se sabe do laboratório de Wuhan

O vírus com designação SARS que causou a pandemia surgiu em Wuhan, a cidade onde estão localizados os melhores laboratórios para o estudo dos coronavírus. Com uma equipa liderada pela especialista Shi Zhengli, que estudava o vírus há mais de uma década, foi possível concluiu que os vírus mais semelhantes ao SARS-CoV-2 circulavam entre morcegos que viviam a cerca de 1.600 quilómetros no sul da China e no Laos. 

No entanto, desde 2019 que estes cientistas defendem que a transmissão de morcego para o ser humano era rara, mesmo nos locais onde eram mais frequentes.

Um ano antes do surto, o Instituto de Virologia de Wuhan, em conjunto com parceiros americanos da EcoHealth, uma organização que desde 2002 tinha recebido 80 milhões de dólares para a investigação de doenças infecciosas, propôs criar vírus com as mesmas características que a SARS-CoV-2. O coronavírus foi então cultivado com base em amostras de animais infetados e recombinados para criar novos vírus desconhecidos. 

Em 2019, o grupo de Shi publicou uma base de dados onde estavam presentes mais de 22 mil amostras de animais selvagens que tinham sido recolhidas. Contudo, deixou de estar disponível para consulta externa no outono de 2019 e não tinha sido partilhada com os colaboradores americanos mesmo no início da pandemia, que teria sido útil para rastrear a origem.

A teoria dos morcegos

Em dezembro de 2019, cientistas chineses assumiram que o surto tinha começado num mercado de Wuhan com milhares de visitantes diariamente, o que limitou o rastreio de casos que não tivessem sido detetados perto do mercado. Para piorar a situação, o governo chinês solicitou a destruição de amostras de pacientes infetados a 3 de janeiro de 2020, sendo quase impossível determinar a origem da Covid-19.

Dois artigos publicados na revista científica Science em 2022 defendiam a teoria de que o vírus teria sido espalhado de morcegos para seres humanos no mercado, mas desde então foram contrariados por outros virologistas. Os estudos mostram que os dados disponíveis sobre o mercado não distinguem entre um evento de super disseminação humana e uma propagação natural. Além disso, dados genéticos e dados de casos iniciais mostram que todos os casos de Covid-19 provavelmente provêm de uma introdução do SARS-CoV-2 nos seres humanos, e o surto no mercado de Wuhan aconteceu após o vírus se ter espalhado.

Em 2023, dados genéticos publicados por cientistas chineses e recolhidos no mercado de comida de Wuhan conectam a Covid-19 a guaxinins e uma equipa de investigadores internacionais considerou os animais "prováveis condutores" da doença.

A China entrou em confinamento em janeiro de 2020, e os restantes países seguiram meses depois. Foi estimado que morreram cerca de 40 mil pessoas por mês na Europa e a OMS acredita que morreram mais de 7 milhões de pessoas no mundo, enquanto que 760 milhões de casos foram registrados. Em maio de 2023 a organização anunciou que o vírus já não constituía um perigo para a saúde pública.

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