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Libertadas aves de espécie que se achava extinta na Nova Zelândia

Andreia Antunes com Ana Bela Ferreira
Andreia Antunes com Ana Bela Ferreira 31 de agosto de 2023 às 13:17
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Os takahe foram declarados extintos em 1898, sendo o regresso da população selvagem um marco de conservação.

Uma espécie de ave grande que não voa, e que se pensava estar extinta durante várias décadas, foi libertada no vale do Lago Whakatipu Waimaori, uma zona alpinano sul da ilha da Nova Zelândia. Dezoito aves takahe (tacaé-do-sul) foram libertadas neste local onde não eram vistas a vaguear há cerca de 100 anos.

Hagen Hopkins / Gettyimages

A tribo Ngai Tahu, a quem pertence esta terra, enfrentou uma longa batalha legal para os devolver ao vale. "Alguém nos chamou, uma vez, a terra dos pássaros que andam", disse O'Regan, um líder Ngai Tahu. "Poucas coisas são mais bonitas do que ver estes grandes pássaros a galopar de volta às terras de tussock onde não andam há mais de um século".

Os takehe são um animal invulgar, não voam, medem cerca de 50 centímetros de altura e vivem nas montanhas. A sua presença em Aotearoa remonta, pelo menos, à era pré-histórica do Pleistoceno, de acordo com vestígios fósseis. "Têm um aspeto quase pré-histórico", explicou Tumai Cassidy, também da tribo Ngai Tahu. "Muito largos e ousados" acrescentou.

O regresso da população selvagem dos takehe é um marco de conservação para a Nova Zelândia, com o regresso de umas das criaturas mais raras do mundo.

Estas aves tinham sido declaradas extintas em 1898, tendo a população, que já era reduzida, sido devastada pelos animais dos colonos europeus, como os arminhos, gatos, furões e ratos. Desde a sua redescoberta em 1948, o número de aves tem vindo a crescer, sendo atualmente cerca de 500, com um aumento de 8% comparativamente ao ano passado.

Após a sua redescoberta, investigadores recolheram e incubaram artificialmente os ovos, para evitar que fossem comidos por predadores. À medida que nasciam, as crias eram alimentadas e criadas por trabalhadores que usavam meias como bicos vermelhos, de forma a imitar as aves adultas. Depois de as criarem em cativeiro, o departamento de conversação introduziu-as em santuários e parques nacionais.  

Se for observado que as aves libertadas na natureza se adaptam à sua nova casa, a esperança é libertar mais sete em outubro, afirmou Deidre Vercoe, gerente de operações de recuperação do departamento de conversação de takahe, ao jornal britânico The Guardian.

"Depois de décadas de trabalho árduo para aumentar a população de takahe, é gratificante concentrarmo-nos agora no estabelecimento de mais populações selvagens, mas isso traz desafios", alertou Vercoe. "Estabelecer novas populações de espécies nativas selvagens pode levar tempo e o sucesso não é garantido."

Ao mesmo tempo, a Nova Zelândia está num esforço nacional para eliminar os seus predadores introduzidos, como ratos, gambás e arminhos, até 2050. À medida que estas populações são reduzidas, espécies raras estão a ser reintroduzidas fora das cercas dos santuários. No ano passado, os kiwis foram reintroduzidos em espaços selvagens nos arredores da cidade pela primeira vez em gerações.

A libertação dos takahe nas terras Ngai Tahu é uma tentativa de estabelecer a terceira população selvagem destas aves no país. É uma colaboração entre o governo e a tribo indígena que os vai acolher.

Para a tribo é uma forma de voltar a ter aves valorizadas pelos antepassados. Foi "incrivelmente significativo para mim", relatou Cassidy.

O declínio dos takahe coincidiu com uma grande parte das terras da tribo sido confiscadas, vendidas e roubadas. Nessa época, os locais deram aos cumes das montanhas o nome de Ka Whenua Roimata, as terras das lágrimas, referiu O'Regan. "Espero que os manuhiri [visitantes] apreciem o chamamento próximo do takahe que irradia do fundo do vale", acrescenta.

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