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Influência russa na Europa de Leste está a agravar epidemia de VIH, dizem especialistas

Luana Augusto
Luana Augusto 07 de agosto de 2024 às 21:31
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Conselheiro especial da OMS para a Europa, Michel Kazatchkine, garante que no Cazaquistão um programa de terapia com opioides já está praticamente encerrado.

A crescente influência russa na Europa de Leste está a provocar um agravamento da epidemia de VIH. O alerta é de alguns especialistas de saúde que reportaram a situação ao jornal britânico The Guardian.

REUTERS/Eliseo Fernandez (CHILE)

A propaganda ligada à Rússia e que é direcionada, por exemplo, contra serviços de terapia de substituição de opiáceos - cujo objetivo é reduzir o risco de infeção entre os toxicodependentes -  e a comunidade LGBTQ+, tem dificultado os esforços para melhorar os tratamentos e a prevenção de infeções. Um relatório do Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) já havia até dado conta desta influência por parte da Rússia na realização de diagnósticos. Segundo o documento, o número de testes têm diminuído desde 2019. 

"A tendência geral reflete em grande parte a situação na Rússia onde os diagnósticos diminuíram 31% desde 2019. Os restantes países registaram variações significativas, especialmente em 2022, quando várias nações tiveram aumentos dramáticos no número de casos diagnosticados originários da Europa Central e Oriental, incluindo casos positivos anteriores", lê-se.

Ao The Guardian, o conselheiro especial da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Europa dá agora como exemplo o facto de haver um programa de terapia com opioides que já está praticamente encerrado no Cazaquistão. Michel Kazatchkine sublinhou ainda que a influência russa nos países vizinhos é de facto "clara e crescente", principalmente no que toca ao financiamento de serviços de segurança e ministérios do Interior. 

"[A Rússia] está a financiar ainda mais a propaganda e a conduzir uma rápida russificação dos territórios ocupados", referiu. 

Natalia Nikitenko, ex-membro do parlamento no Quirguistão e membro da Comissão de Política de Drogas da Europa Oriental e da Ásia Central, lembrou também que há muitos destes nacionais que trabalham na Rússia e que os seropositivos e toxicodependentes têm medo de transportar as terapias consigo. Em causa está o elevado risco de deportação. 

Na Ucrânia, depois das perturbações iniciais causadas pela invasão russa, o cenário começa agora a estabilizar. Segundo o The Guardian, já foram retomados alguns serviços do programa nacional de tratamento de VIH, e como consequência, o número de pessoas que recebem tratamentos também já está a aumentar. 

Porém, o diretor executivo da instituição de solidariedade ucraniana, Alliance for Public Health, sublinha que a organização foi obrigada a adotar uma abordagem humanitária mais ampla, comparativamente com o período anterior ao da guerra, nomeadamente com apoio alimentar.

De acordo com o relatório do ECDC, em 2022, foram notificados 110.466 de VIH, a maioria no leste europeu (72%), em particular na Rússia e na Ucrânia. Segundo o The Guardian, a maioria das novas infeções ocorreram entre "populações-chave". Dentro deste grupo podem ser incluídos os toxicodependentes, profissionais do sexo, gays e os seus parceiros sexuais.

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