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Descobertos microplásticos em vestígios arqueológicos

Andreia Antunes
Andreia Antunes 02 de abril de 2024 às 13:09
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Esta é a primeira evidência de contaminação microplástica em vestígios arqueológicos, uma contaminação que compromete os dados científicos. A descoberta pode forçar uma mudança na forma como se preservam estes locais.

Foram encontrados microplásticos em amostras de solo com vestígios arqueológicos, revelou o estudo publicado na revistaScience of the Total Environment. Esta descoberta pode levar a uma alteração na forma como os vestígios arqueológicos são atualmente preservados.  

Reuters

Os investigadores da Universidade de York, no Reino Unido, encontraram microplásticos em depósitos de solo a mais de sete metros de profundidade, que provêm de dois sítios arqueológicos da região. Os vestígios datam dos séculos I ou II depois de Cristo, tendo sido escavados na década de 1980.

Os cientistas utilizaram a técnica de imagem FTIR, que pode detetar a quantidade, o tamanho e a composição dos microplásticos. O estudo identificou cerca de 16 tipos diferentes de polímeros microplásticos em amostras de solo contemporâneas e arquivadas.

Os microplásticos podem comprometer o valor científico dos depósitos arqueológicos e indicadores ambientais suspensos em sedimentos significativos, menciona o estudo. Se for revelado que os vestígios arqueológicos estão comprometidos, esta contaminação pode influenciar futuras estratégias de escavação e amostragem.

O que são microplásticos?

Microplásticos são pequenos pedaços de plástico que não ultrapassam os cinco milímetros. Estes formam-se quando os plásticos maiores se decompõem, tanto por degradação química ou por desgaste físico.

Existem duas categorias: os microplásticos primários, que são partículas minúsculas concebidas para utilização comercial, como os cosméticos ou microfibras que se desprendem do nosso vestuário e de outros têxteis, como redes de pesca; e os microplásticos secundários, que são partículas resultantes da decomposição de objetos dos plásticos maiores, como garrafas de água.

Os plásticos demoram centenas ou milhares de anos a decomporem-se e nesse processo causam estragos e contaminam tanto os solos, como os oceanos e até a saúde humana.

"No nosso projeto-piloto, salientamos que a contaminação está a ocorrer quase impercetivelmente, e tem vindo a ocorrer ao longo de muitos anos", aponta o estudo. "[Está a ocorrer] através de uma gama diversificada de processos que se relacionam com as alterações ambientais, poluição ambiental, alterações do comportamento humano e infraestruturas (principalmente água e esgotos)."

A proteção dos sítios históricos

Atualmente a preservação de vestígios arqueológicos é feita in situ, que significa no próprio lugar, ajudando a evitar danos nos artefactos, preservando-os para que os investigadores possam recolher informações e mantendo o contexto em que foram descobertos. Esta descoberta pode desencadear uma mudança nessa abordagem, uma vez que a contaminação por microplásticos pode comprometer o valor científico dos mesmos.

"Estamos familiarizados com os plásticos nos oceanos e nos rios, mas aqui vemos o nosso património histórico a incorporar elementos tóxicos", defendeu John Schofield, professor e diretor de estudos no Departamento de Arqueologia da Universidade de York, em comunicado. "Até que ponto esta contaminação compromete o valor probatório destes depósitos e a sua importância nacional é o que vamos tentar descobrir a seguir."

O estudo concluiu assim que esta é a primeira prova de contaminação por microplásticos de amostras arqueológicas de sedimentos com polímeros e gamas de tamanhos minúsculos, tendo em conta o procedimento de preservação. "A presença de microplásticos pode e irá alterar a química do solo, potencialmente introduzindo elementos que causarão a decomposição dos restos orgânicos", explicou David Jennings, diretor executivo da York Archaeology, na mesma comunicação divulgada pela universidade. "Se for esse o caso, a preservação da arqueologia in situ pode já não ser adequada."

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