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Não faltam argumentos para justificar a gratuidade da vacina contra a pneumonia a todos os maiores de 65 anos. Além de que a melhor estratégia para poupar é prevenir, alerta o especialista da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, José Coutinho Costa.
É muitas vezes apelidada de silenciosa mas, mais perigoso do que isso, é a sua desvalorização. “Há muito a ideia na população de que a pneumonia não é uma doença grave. De que as pessoas adoecem, fazem o antibiótico e ficam curadas – que não vão morrer”, diz o pneumologista José Coutinho Costa, na véspera do Dia Mundial da Pneumonia, que se assinala a 12 de novembro. Não podia estar mais longe da verdade. Os números ajudam a perceber porquê. Estima-se que a doença seja responsável por três milhões de mortes por ano em todo o mundo.
Mais de metade das mortes causadas por doenças respiratórias estão associadas à pneumoniaiStockphoto
Em Portugal, a estatística não melhora: é a nona causa de morte, sendo uma das doenças respiratórias que mais mata. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, mais de metade (56%) das mortes causadas por doenças respiratórias estão associadas à pneumonia – o que correspondeu a 5.042 óbitos em 2023. Sendo assim, torna-se ainda mais pertinente a pergunta: porque é que a vacina contra a doença não é comparticipada?
“Isso está a ser trabalhado”, avança à SÁBADO o também coordenador da Comissão de Trabalho de Asma e Alergologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. Na verdade, até há quatro anos, a vacina nem sequer era comparticipada para grupos de risco – e atualmente é (já lá vamos). O profissional de saúde não tem dúvidas sobre o benefício de a tornar gratuita para todos os maiores de 65 anos (o grupo em que há mais internamentos e mortalidade).
“Numa fase inicial representaria um aumento dos custos em saúde, mas a longo prazo seria uma estratégia de custo-benefício, permitiria reduzir os números dos internamentos e a gravidade”, acredita. “Se queremos poupar, a melhor estratégia é apostar na prevenção”, acrescenta.
As vacinas destinam-se a diminuir a gravidade da doença, ou seja, não garantem que a pessoa não apanha a doença, mas fazem com que a infeção se torne mais ligeira do que se não estiver vacinado. “Além de ter doença mais ligeira, garantidamente não vai ter uma sepsis, uma infeção generalizada causada pela pneumonia. Mais: o risco de mortalidade no doente vacinado é praticamente nulo”, sublinha José Coutinho Costa.
Em 2021, a Direção Geral da Saúde (DGS) atualizou as normas relativas à vacinação contra a pneumonia. Antes disso, a vacina já era gratuita para todas as crianças até aos 18 anos e para alguns grupos de risco – sobretudo doentes imunodeprimidos. Além desses, pessoas com insuficiência respiratória crónica e os candidatos a transplante (que forem incluídos na lista de espera) também ficaram abrangidos.
Para os adultos maiores de 65 anos (que não fazem parte dos grupos de risco), a vacina é recomendada e há um regime especial de comparticipação a 69%, segundo a norma 013/2024, de 19 de dezembro de 2024, da DGS. O que significa que “ainda há uma margem muito importante, muitos grupos de risco que nós podemos e devemos vacinar”, diz.
A consideração é sustentada na evidência científica. “O que está provado ao nível de todos os países da Europa é que os países que apostam numa estratégia de vacinação mais agressiva, com maior abrangência destes grupos de risco, têm menores taxas de internamento e de mortalidade”, diz o especialista.
Porque é tão grave?
Há uma razão para os números serem tão graves, e isso deve-se ao funcionamento da infeção. Esta é uma doença inflamatória “que afeta os alvéolos pulmonares e é a esse nível que se dão as trocas gasosas, ou seja, que o pulmão é capaz de absorver oxigénio e eliminar gases nocivos, como o dióxido de carbono”, explica José Coutinho Costa.
Na presença desta doença baixam os níveis de oxigénio nos pulmões e, por consequência, o oxigénio que é transmitido a todos os órgãos do organismo. “Os doentes morrem por falta de oxigenação”, traduz o especialista. Mas a mortalidade não acontece só por consequência direta da infeção. “A falta de oxigenação sistémica pode levar a um enfarte ou a um acidente vascular cerebral. Daí que esta seja uma doença com elevada taxa de mortalidade”, enquadra o profissional de saúde.
Há várias causas que podem estar na base, mas as principais são a bacteriana e a vírica. As primeiras são causadas por uma bactéria que é vulgarmente conhecida como pneumococo (o Streptococcus pneumoniae); já as víricas são, sobretudo, provocadas pelo vírus da gripe, pelo da Covid e também pelo vírus sincicial respiratório (o VSR). A vacina destina-se às primeiras – até porque para as pneumonias víricas, a proteção é obtida através das vacinas que existem para essas doenças.
Os grupos mais vulneráveis à infeção são todos aqueles que têm a sua imunidade comprometida, ou que ainda estão a desenvolvê-la. É o caso das crianças, porque o seu sistema imunitário ainda está em desenvolvimento. Quanto aos maiores de 65 justifica-se porque “sabemos que há uma imunossenescência associada à idade, ou seja, à medida que envelhecemos, o nosso sistema imunitário fica mais debilitado”, explica.
O risco de mortalidade no doente vacinado é praticamente nulo. José Coutinho Costa, especialista da Sociedade Portuguesa de Pneumologia
Além destes dois grupos, todos os que têm uma doença crónica – seja cardíaca, respiratória, hepática, renal ou outra –, também estão mais suscetíveis, exatamente pela mesma razão: um sistema imunitário mais fraco.
A melhor forma de prevenir, sublinha o especialista, é mesmo apostar na vacinação. Além de adotar aquelas medidas de etiqueta respiratória, que são válidas para as restantes infeções, sobretudo quando se está doente. Como evitar grandes aglomerados ou usar máscara.
Por último, e porque é nesta altura do ano que as pneumonias são mais prevalentes, é preciso também estar alerta para os sintomas. “Um quadro de tosse, com expetoração, dor no peito, falta de ar e febre que não passa com os medicamentos tradicionais, provavelmente será uma pneumonia bacteriana e aí, quanto mais depressa atuarmos, menor é o risco de progredir para uma infeção generalizada”, alerta o médico.
Numa fase inicial, os sintomas são muitas vezes desvalorizados e a procura de ajuda é adiada. Mas nenhum destes estados arrastados no tempo é de ignorar – principalmente nesta altura do ano, acrescenta. Em jeito de remate, e terminando da mesma forma como se iniciou, o profissional de saúde deixa a mensagem: "Mais do que silenciosa, diria que esta é uma doença subvalorizada e só percebendo o seu impacto e a sua gravidade as pessoas vão aderir às estratégias de prevenção."
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