Sábado – Pense por si

46 mil anos depois, cientistas ressuscitaram vermes adormecidos

Andreia Antunes com Leonor Riso
Andreia Antunes com Leonor Riso 31 de julho de 2023 às 10:16
As mais lidas

Vermes sobreviveram durante um mês, mas conseguiram reproduzir-se. Encontravam-se num estado de latência conhecido como criptobiose.

46 mil anos depois, cientistas "acordaram" vermes que estavam num estado de inatividade a 40 metros de profundidade no permafrost, camada do subsolo que está sempre congelada na Sibéria. Acredita-se que estes vermes viveram no período Pleistoceno, há entre 2.58 milhões e 11.700 anos.

Os vermes pertencem à espécie extinta Panagarolaimus kolymaensis e encontravam-se num estado de latência conhecido como criptobiose, que torna os sinais vitais indetetáveis e pode ser induzido por diversos fatores ambientais.

Os vermes foram reanimados ao receber comida e água e sobreviveram pouco menos de um mês. Porém, conseguiram dar origem a mais de 100 descendentes.

"O facto de poderem ser reanimados ao fim de 46 mil anos deixou-me absolutamente estupefacto", afirmou o professor Teymuras Kurzchalia, autor do estudo sobre estes vermes publicado na revista científica PLOS Genetics.

"Este pequeno verme pode agora estar na linha de um recorde mundial do Guinness, tendo permanecido num estado de latência durante muito mais tempo do que se pensava ser possível", menciona o professor do Instituto Max Planck de Biologia Celular Molecular e Genética, na Alemanha.

Antes deste caso, os cientistas apenas tinham provas de que os nemátodos, filo de animais cilíndricos espetacularmente alongados, ou lombrigas eram capazes de permanecer no estado de criptobiose até 40 anos.

© 2023 Shatilovich et al. PLOS Genetics, 2023/CC-BY 4.0
A carregar o vídeo ...

Os investigadores decidiram comparar o genoma (informação genética) do Panagarolaimus kolymaensis com um dos seus descendentes vivos, o Caenorhabditis elegans, e encontraram dados coincidentes.

Muitos dos genes partilhados estão ligados a mecanismos envolvidos na sobrevivência a condições ambientais adversas. O Caenorhabditis elegans é normalmente encontrado em regiões temperadas, escondido em frutos ou plantas em decomposição.

Segundo os autores do estudo, estas descobertas indicam que "ao adaptarem-se para sobreviver ao estado criptobiótico durante curtos períodos de tempo em ambientes como o permafrost, algumas espécies de nemátodos ganharam o potencial de vermes individuais permanecerem nesse estado durante períodos de tempo geológicos".

A equipa vai ainda tentar descobrir qual é o papel dos genes partilhados na criptobiose e se existe um limite para o tempo que os nemátodos podem permanecer nesse estado. "Estas descobertas têm implicações para a nossa compreensão dos processos evolutivos, uma vez que os tempos de geração podem ser esticados de dias para milénios, e a sobrevivência a longo prazo de indivíduos de espécies pode levar à refundação de linhagens que de outra forma estariam extintas", referiram os autores do artigo.

Artigos Relacionados