Sábado – Pense por si

Bruno Nogueira
Bruno Nogueira Humorista

Nasceu em Lisboa, em 1982. Divide a sua carreira entre o teatro, a televisão e a rádio. É o criador do espetáculo Deixem o Pimba em Paz (2013), onde, ao lado de Manuela Azevedo, desconstrói os temas mais emblemáticos do cancioneiro pimba. Na televisão participou, criou, escreveu e atuou, entre outras, nas séries Último a Sair (RTP) e Odisseia (RTP), Som de Cristal (SIC), Princípio, Meio e Fim (SIC) e Tabu (SIC). Na rádio é autor, com João Quadros, de Tubo de Ensaio (TSF) e Mata-Bicho (Antena 3). Durante a pandemia criou um projeto no Instagram intitulado Como é que o Bicho Mexe. Em dezembro de 2023, integrou o espetáculo Uma Nêspera no Cu. Tem um podcast chamado Isso Não se Diz e, desde novembro de 2022, assina semanalmente as páginas Talvez Crónica na SÁBADO. Gosta muito da vida que tem.

Talvez crónica

A força de desistir

Não estou a falar daquela desistência preguiçosa, daquilo que se abandona porque se tem medo de fazer o trabalho duro. Falo da desistência sábia, a que vem com a reflexão e com a consciência de que já não vale a pena gastar energia em algo que não vai dar em nada.

Talvez crónica

A arte do queixume

Nunca sabemos se queremos realmente o que não temos, ou se queremos apenas que nos falte sempre algo. E talvez, no fim de tudo, o que queremos não seja mais do que isso: viver na promessa do que nunca chega, na eternidade do que nunca se concretiza.

Talvez crónica

A idade certa

O meu tempo interior sempre esteve em desacordo com a minha idade. Não falo de ser “maduro” ou “precocemente sensato”, não é sobre isso. Era um estado de cansaço existencial precoce.

Talvez crónica

O som que nasceu com ela

Sempre foi generoso e atencioso, mas não é de partilhar o que sente, muito menos a razão pela qual o sente. Conheço o riso do meu pai há muitos anos, e conheço-lhe a gargalhada, o riso que vem quando alguma coisa o apanha de surpresa.

Talvez crónica

Um pouco mais suportável

Quando eu tinha 19 anos, um encenador e amigo deu-me a conhecer o concerto de Colónia do Keith Jarrett. Foi talvez o presente mais bonito que recebi até hoje, um som salvífico que nasceu num dia em que nada era suposto nascer.

Talvez crónica

Um dia vais perceber

Outras vezes nunca percebemos. E ficamos a vida inteira a duvidar de nós mesmos. Será que somos assim tão lerdos? Será que estamos condenados a viver na ignorância eterna? Talvez a frase “um dia vais perceber” seja apenas uma maneira educada de dizer “não tens capacidade para isto”.

Talvez crónica

Um movimento interno

Vivemos num tempo em que a dignidade parece um luxo, uma coisa obsoleta, como usar lenços de pano ou arranjar as solas dos sapatos. Já ninguém quer saber, porque há opções mais fáceis e rápidas. O importante é ganhar, aparecer, e sobretudo estar certo.

Talvez crónica

Uma aposta cega

O que me assusta em 2025 é não saber nada dele. Não saber o que me vai trazer ou o que me vai levar. É uma aposta cega. Quando chega a meia-noite, não é o ano que muda – somos nós que nos inventamos de novo.

Talvez crónica

Uma redenção partilhada

Há qualquer coisa de milagroso numa boa piada. É um conjunto de palavras ditas de uma maneira muito específica que, juntamente com os silêncios certos, pode desencadear uma faísca invisível que nos liga a quem contou a piada, e, por um momento, a toda a gente que se riu dela.

Talvez crónica

Uma mesa com chá e bolos

O meu amigo tem tantos ou mais sonhos do que eu, mas o cancro chegou e disse-lhe que afinal já não podia ser, que tinha de ficar por aqui, que o resto fica para quem continuar por cá. Sempre o cabrão do cancro, esse devorador de esperança que aparece sem ser convidado.

Talvez crónica

A dor de ver de fora

Passamos a vida a tentar ser o que corrigimos nos outros, a olhar de fora para o erro com uma superioridade toda ela feita de arrogância e medo de fazer igual, e acabamos por falhar tanto e tão estrondosamente que às vezes chegamos a ter vergonha de nós.

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