A MÚSICA SEMPRE foi a minha forma de entender o mundo. Um consolo sem pedir explicações, sem exigir que sejamos fortes, sem cobrar que nos comportemos como heróis. Alguém disse uma vez que a música não resolve a nossa dor, apenas a torna mais suportável. Talvez seja isso, sim. Às vezes lembro-me de ser adolescente, não saber o que queriam de mim, nem o que eu queria dos outros, mas chegava a casa, ligava a aparelhagem e punha um disco que de repente me ensinava o caminho de volta até qualquer coisa muito maior do que eu, muito maior do que tudo. A música já me salvou muitas vezes de mim próprio, sem que eu sequer soubesse. Quando eu tinha 19 anos, um encenador e amigo deu-me a conhecer o concerto de Colónia do Keith Jarrett. Foi talvez o presente mais bonito que recebi até hoje, um som salvífico que nasceu num dia em que nada era suposto nascer. Mas já lá vamos.