O meu tempo interior sempre esteve em desacordo com a minha idade. Não falo de ser “maduro” ou “precocemente sensato”, não é sobre isso. Era um estado de cansaço existencial precoce.
ACHO QUE SEMPRE fui velho. Ou então não me lembro de ter sido novo, não sei. Se o fui, talvez tenha sido quando ainda sabia menos do que andava cá a fazer. Sempre fui velho, muito mais velho do que a idade que tinha. Não era uma vontade de envelhecer, era antes um estado desadequado entre a minha idade e o que sentia, aquilo que queria fazer, o que procurava e as pessoas com quem queria estar. Sempre me senti mais velho do que era e isso é um peso desmedido para quem é novo. Não me sentia com aquele tipo de velhice que vem com a pele murcha e os ossos que estalam, era uma velhice interior, um peso existencial que me apanhava as entranhas muito antes de ser tempo disso. E essa discordância, esse descompasso entre a cabeça e o corpo, é um mistério que nunca soube resolver. O meu tempo interior sempre esteve em desacordo com a minha idade. Não falo de ser “maduro” ou “precocemente sensato”, não é sobre isso. Era um estado de cansaço existencial precoce, como se já tivesse atravessado muitas das fases que ainda tinha pela frente. Lembro-me de ter 15 anos e aquelas conversas de adolescentes sobre “o que será de nós quando formos grandes?” me parecerem uma língua estrangeira. Eu não tinha idade para me sentir tão velho, mas a sensação era avassaladora. Queria estar com pessoas mais velhas, a falar de coisas mais velhas e a sentir coisas mais velhas. Nunca gostei de sair à noite. Quando surgia esse assunto no grupo de amigos onde estava, tinha de inventar dentro de mim uma alegria que não era minha – não podia dizer a verdade sobre o que sentia, não fosse eu descoberto na estranheza daquilo que era. Estava a caminho da discoteca e já estava a pensar na casa que tinha deixado, no bom que podia ter sido se tivéssemos ficado só a conversar, a beber, e a sonhar com aquilo que nos faz falta quando não estamos à procura de nada. Eu não tinha vivido muito, mas parecia já ter experimentado o suficiente daquilo tudo. A dor da juventude não é, como dizem os poetas, a dor da busca de si mesmo. A verdadeira dor da juventude é a consciência do que já se foi e do que ainda não se é, tudo ao mesmo tempo. Eu já tinha nascido velho, mas sem poder usar isso como desculpa, porque o tempo não respeita quem se sente para lá da sua idade. Não é que eu tivesse o dom da sabedoria ou que tivesse grandes reflexões sobre a vida, era tudo mais raso, era uma moinha que começava na cabeça e que agora já apanhava o corpo todo.
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