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Falta de políticas públicas tem impacto na felicidade dos idosos em lares

Gabriela Ângelo 23 de dezembro de 2024 às 07:00
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Um estudo realizado pela Lares Online determinou vários fatores que contribuem para a felicidade dos residentes nestas instituições. Além de mais apoios públicos para melhorar oferta, a instituição alerta que faltam vagas para dar resposta às necessidades do País.

A entrada num lar pode causar receio ou ansiedade nos idosos e a vida nestes espaços podem não ser encarada como algo positivo. Para perceber o que pensam e como se sentem os idosos em lares, a plataforma Lares Online realizou o estudo "A Felicidade dos Idosos Portugueses em Lares". A segurança, a satisfação de familiares com a qualidade do lar e os incentivos para atividades e interação social são alguns dos fatores que contribuem para o aumento do bem-estar.

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No entanto, existe uma escassez de políticas públicas que garantam a segurança e a qualidade de vida dos residentes em lares. De acordo com Marina Lopes, CEO e fundadora da Lares Online, a melhoria das condições dos lares pode variar entre um "aumento do número de vagas comparticipadas", o "aumento no número de instituições capacitadas para a residência permanente de idosos" ou um "aumento do pessoal afeto aos lares".

Em relação aos apoios públicos, a responsável menciona a mudança "notória" entre os governos de António Costa e de Luís Montenegro. Já que, em janeiro no final do seu mandato, o governo PS decidiu aprovar em janeiro o Plano de Ação do Envelhecimento Ativo e Saudável 2023-2026. Este plano tinha como objetivo melhorar as condições de vida dos idosos e incluía "o incentivo para a contratação de mais profissionais, o aumento da melhoria das condições dos lares já existentes" assim como "a construção de novas estruturas", abordando ainda medidas a nível do apoio domiciliário, explica Marina Lopes. Desde que tomou posse o governo da AD, em março, estas medidas não viram a luz do dia.

Porém, são identificadas pelo estudo agora divulgado como sendo essenciais para garantir uma melhoria dos serviços prestados, com "padrões mínimos de qualidade nos serviços oferecidos, desde a infraestrutura ao apoio médico e social". A criação de "programas de acreditação para lares" é assim fundamental para assegurar de forma eficaz "que os idosos recebam os cuidados necessários", defende Marina Lopes à SÁBADO.

Qualquer que sejam as políticas, o seu impacto irá "influenciar direta ou indiretamente" a felicidade dos idosos que residem nestes lares, e as suas famílias. 

Regulamentação dos lares e a falta de vagas

O crescente envelhecimento da população portuguesa coloca outra questão, a procura por vagas em lares. Aqui as famílias deparam-se com um problema: uma grande fatia das residências não são regularizadas. De acordo com Marina Lopes, CEO da Lares Online, estima-se que haja "2.600 lares que cumprem a regulamentação", mas existem ainda "mais de mil lares de idosos a funcionar de forma ilegal face à legislação em vigor".

Atualmente o processo para regularizar os lares é "complexo". Muitos "podem ou não estar identificados pela Segurança Social" mas os que não estão, apenas estarão sujeitos a uma fiscalização no caso de uma denúncia. A possibilidade de existirem lares que não são do conhecimento as autoridades acarreta riscos pois "não sabemos em que condições podem estar certos idosos a viver", alerta a responsável da Lares Online.   

Nos 2.600 lares que cumprem a lei estima-se que haja cerca de "105 mil camas disponíveis", que Marina Lopes revela estar "longe de ser ideal". Esta falta de vagas acaba por ter um impacto ainda maior porque leva à "abertura das instituições ilegais" que acabam a criar "uma sensação de insegurança".