Dez mil famílias espanholas assinaram um pacto onde prometem só oferecer smartphones aos filhos quando estes atingirem os 16 anos. Em Portugal, o Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida luta pela proibição nas escolas.
No início do ano letivo, o Governo português recomendou às escolas que se proibisse o uso de telemóveis no 1º e 2 º ciclo. Mas para Mónica Pereira, doMovimento Menos Ecrãs, Mais Vida, isso não é suficiente. "A proibição deveria ser vinculativa para as direções escolares", considera. "Há muitas direções de escola que não estão abertas a mudanças."
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Em Espanha, a maioria das regiões autónomas limitou o uso de telemóveis nas escolas após recomendação do Ministério de Educação. Mas as famílias querem ir mais longe. A Plataforma Adolescência Livre de Telemóveis, que reúne 25 mil famílias, lançou um pacto para que os pais se comprometam a apenas comprar smartphones aos filhos quando estes atingirem os 16 anos. Em duas semanas, dez mil famílias assinaram o pacto.
Em Portugal, a recomendação do Governo não obteve os mesmos resultados. Segundo o relatório da Federação Nacional de Educação sobre as condições de abertura deste ano letivo, apenas uma em cada quatro escolas tinha acatado a recomendação e limitado o uso dos telemóveis nas escolas. "Pedimos uma reunião ao Ministério da Educação em janeiro para fazer um ponto da situação, mas não fomos recebidos", conta Mónica Pereira.
A Assembleia da República fez o mesmo pedido e, após comunicado da Associação sobre a falta do mesmo, o anterior governo garantiu que iria lançar um relatório no final do ano letivo. "Estamos a aguardar", diz Mónica Pereira.
A questão é grave. Está estabelecida uma relação entre o uso de smartphones por crianças e adolescentes e o aumento de problemas de concentração e atenção. "Sabemos que só ter o telemóvel na mochila já limita a atenção na sala de aula e reduz a aprendizagem de conteúdos", diz a psicóloga Laura Sanches. "Está presente na cabeça dos alunos, ficam a pensar se já terão recebido algum like numa rede social", exemplifica.
E são muitas as crianças que levam smartphones para a escola logo no 5º ano. A possibilidade de estarem contactáveis em permanência oferece alguma tranquilidade aos pais, numa altura, em que os filhos começam a ir para a escola sozinhos. Mas o aparelho tomou conta dos recreios das escolas e as crianças deixaram de brincar.
Ter espaço para criar empatia
A proibição de telemóveis na escola abriria um espaço de liberdade. "A escola seria um espaço livre desse tipo de ecrãs, as crianças poderiam desligar-se da tecnologia por algumas horas e ter a possibilidade de se ligarem com os outros e com o mundo", explica a psicóloga.
Porque os efeitos nocivos dos smartphones não se ficam na perturbação da atenção. "A atenção desfragmentada, que nos puxa para coisas externas a nós próprios, pode levar com mais facilidade a estados de depressão", avisa Laura Sanches. A construção da identidade dos adolescentes fica em risco. "É importante o sonhar acordado, os adolescentes precisam de espaços vazios para se encontrarem a si próprios e os ecrãs não o permitem porque afastam-nos de nós próprios", sublinha a psicóloga.
A própria capacidade de estabelecer relações com os outros fica afetada. "É mais difícil sentir empatia pelos outros quando não conseguimos estar em contacto com os nossos próprios sentimentos", explica.
Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, considera que o problema não deve ser imputado às escolas. "Penso que as escolas devem ter a autonomia para decidir se proíbem ou não", diz. "Mas não são cinco ou dez minutos no intervalo que irá fazer diferença quando em casa, com os pais, as crianças passam a refeição ao telemóvel ou levam-no para a cama e ficam até de madrugada a falar com colegas", acrescenta.
Proibir até 9º ano
Em casa, o acesso a smartphones deve ser limitado até aos 14 anos. "Definiu-se um limite de uma hora e meia por dia para todo o tipo de ecrãs", diz Laura Sanches. Mas o acesso a redes sociais deve ser interdito até, pelo menos, aos 16 anos. "Caso isso não aconteça, a identidade do adolescente forma-se com base no que vê nas redes sociais e estas mostram uma versão da realidade distorcida", diz Laura Sanches.
A própria forma de comunicar pode ficar perturbada. "Os adolescentes discutem por mensagem e assim não conseguem autorregular-se", diz a psicóloga. "Quando falamos com alguém cara a cara aprendemos a ler o estado emocional do outro e adequamos o nosso discurso ao que apreendemos da expressão corporal do outro." Isso não acontece com os telemóveis e os conflitos entre amigos deixam os adolescentes cada vez mais ansiosos.
O Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida defende a proibição até ao 9º ano de escolaridade. "Se a questão é conseguir falar com os filhos podem comprar telemóveis sem internet", sugere Mónica Pereira. Há escolas que apontam o telemóvel como ferramenta pedagógica, usada para fazer pesquisa. "Defendemos que todas as escolas devem estar equipadas com computadores e costuma haver, pelo menos, na biblioteca escolar", diz.
O uso do telemóvel na sala de aula não é recomendado pelos neuropediatras. "O uso de manuais digitais e de plataformas online para trabalhos de casa devem ser repensadas até ao final do terceiro ciclo, dado não existir qualquer evidência de que a sua utilização seja vantajosa para os processos de aprendizagem, sendo muitas vezes fonte de distração e dispersão para outros conteúdos não letivos", lê-se nas Recomendações da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria para a Utilização de Ecrãs e Tecnologia Digital em Idade Pediátrica.
Mónica Pereira equipara esta interdição à lei que proíbe a oferta de álcool a menores de 18 anos em locais públicos. "As regras têm de existir, não quer diz que impeça alguns jovens de as quebrar, mas indicam à sociedade o que é correto", defende. "A proibição nas escolas não é uma solução mágica, mas seria um sério contributo", conclui Laura Sanches.
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