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Enfermeira sem emprego em Portugal ganha prémio em Inglaterra

Sílvia Nunes, de 33 anos, chegou ao Reino Unido em 2014 e mal falava inglês. Agora foi eleita a "Melhor Enfermeira" da região Leste de Inglaterra nos "Great British Care Awards". 

Sílvia Nunes, uma enfermeira de 33 anos que nunca conseguiu emprego em Portugal, foi eleita a "Melhor Enfermeira" da região Leste de Inglaterra nos "Great British Care Awards". 

A enfermeira foi nomeada por superiores, colegas e residentes do lar de idosos onde trabalha em Thetford, uma localidade 140 quilómetros a nordeste de Londres. "A Sílvia é fora de série!", resume Ruth French, a directora de operações do grupo Stow Healthcare, que gere cinco lares de idosos nas regiões de Suffolk e Essex (leste), em declarações à Lusa. 

Além de ser uma "profissional de saúde talentosa e competente", French atribui mérito à portuguesa por, juntamente com a directora do lar Ford Place, Alison Charlesworth, ter dado a volta à instituição, que foi avaliada pelo regulador Care Quality Commission com a nota máxima de 'Outstanding' [Excecional] este ano. 

"A Sílvia ajudou a nossa equipa a capacitar-se, apoiando-os para poderem cuidar dos residentes com necessidades de cuidados muito complexos. Isso tornou Ford Place no 'lar mais desejado' da nossa área para cuidados paliativos e para aqueles que precisam de muitos cuidados de enfermagem", elogiou. 

Actualmente a estudar para ser directora de lares de idosos, Sílvia Nunes, de 33 anos, teve uma ascensão rápida tendo em conta que mal falava inglês e não estava habilitada a trabalhar como enfermeira quando chegou ao Reino Unido, em 2014. 

Natural de Vila do Conde, saiu de Portugal frustrada com a dificuldade em encontrar emprego após a licenciatura na Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, em 2013. 

"Fui entregar o currículo a vários sítios à procura de trabalho, mas disseram-me sempre que não empregavam a enfermeiros qualificados há menos de um ano e nenhum hospital me chamou para concursos. Trabalhei num apoio domiciliário em Vila do Conde e era voluntária dos Bombeiros Voluntários, mas não era suficiente para sobreviver e pagar contas", contou à Lusa. 

Em vez de seguir a via do recrutamento através de agências, como centenas de outros enfermeiros portugueses que trabalham em hospitais no Reino Unido nos últimos anos, Sílvia Nunes decidiu "entrar numa aventura" pelos seus meios. 

"O meu inglês era fraco, quase inexistente, tive de aprender cá. Consegui trabalho num lar enquanto esperava o meu PIN [cartão profissional] para exercer através da Ordem dos Enfermeiros de cá, que demorou 10 meses", contou à Lusa. 

Em Dezembro de 2015, sete meses depois de trabalhar como enfermeira, foi promovida a directora clínica e em Setembro de 2016 a vice-directora, tendo contribuído para melhorar o funcionamento ao nível do pessoal, mas também da assistência aos residentes. 

No documento de nomeação para o prémio são referidas várias ações atribuídas a Sílvia Nunes, como a introdução de um reforço de nutrição, como doses reforçadas de laticínios, fruta ou mel, para compensar o corte do financiamento público dos suplementos alimentares. 

Noutros casos, sugeriu alterações na alimentação ou medicação para melhorar o bem estar, o aumento de peso ou que ajudaram no tratamento de feridas. 

"A Sílvia tem um cuidado especial com os meus pés e pernas e não tem problema nenhum em ficar de joelhos para ter certeza de que eles são bem tratados e não me causam problemas. Eu tive uma ferida teimosa no meu pé que demorou muito a cicatrizar e beneficiou enormemente por ter a Sílvia a acompanhá-la com muita atenção", descreveu a residente identificada apenas como IC, num documento de apoio à nomeação para os prémios.