O corço, um animal semelhante ao veado, mas de pequeno porte, já reproduziu em vários locais onde foi reintroduzido, após centenas de anos de desaparecimento daquelas serras.
"Tudo indica que está a ser um projecto de grande sucesso, no que respeita à reprodução de uma espécie que já terá desaparecido há bastantes anos, e existe alguma mortalidade, derivada da predação do lobo. Já encontramos mais do que um animal que foi consumido pelo lobo ibérico e esse é um dos objectivos, que é ter o corço como presa natural do lobo", disse à Lusa Carlos Fonseca, do Departamento do Biologia da Universidade de Aveiro, um dos académicos que participa no projecto, liderado pela Associação de Conservação do Habitat do Lobo Ibérico.
"Basicamente aquilo que se pretende é o restauro do ecossistema, de modo a que o lobo ibérico volte a ter as condições que tinha. Temos de considerar estes projectos excepcionais, em termos do que é a gestão de ecossistemas", considera Carlos Fonseca.
A reintrodução do corço selvagem começou há cinco anos na serra da Freita, sendo depois feito o repovoamento das serras de Arada e de Montemuro, mas "houve todo um trabalho preparatório anterior, para avaliar se existiam presas selvagens para o lobo ibérico, quais eram as mais adequadas e quais os melhores locais para a reintrodução".
"Neste momento, o que podemos garantir é que nestes núcleos de reintrodução tem havido reprodução, o que quer dizer que esta presa silvestre do lobo ibérico, que é o corço, adaptou-se bem ao local", diz.
Foram colocadas coleiras GPS aos animais pelo que estão a ser monitorizados e acompanhados: "a todo o momento sabemos onde é que estes animais estão, se estão vivos ou mortos, e com as equipas no terreno também conseguimos ter informação sobre a reprodução desta espécie".
O lobo ibérico já fez vítimas entre a comunidade dos corços pois, segundo o biólogo, "regista-se que há predação por parte do lobo ibérico e essa função ecológica, pela qual o corço foi reintroduzido, já se está a cumprir".
Com a possibilidade de capturar corços, menos o lobo ibérico é tentado a atacar os animais domésticos e os rebanhos, pelo que o projecto contribui para reduzir o conflito entre o Homem e o predador.
Além da reintrodução do corço selvagem, a Associação para a Conservação do Habitat do Lobo Ibérico, com sede em Esposende, faz também um restauro de 'habitat' através da plantação espécies folhosas, protocolos com caçadores e com associações locais de caça para promover a fiscalização e procura envolver a participação dos agentes locais em todo o processo, tendo também um outro projecto relacionado com a prevenção de potenciais estragos provocados pelo lobo, através dos cães de gado.